Análise: Catanduvas até aqui
Se o trabalho de Sergio Moro corresponder às expectativas geradas até aqui, o ex-juiz federal e futuro ministro da Justiça será o próximo presidente do Brasil.
Não é ironia. A cobrança por um padrão de qualidade na oferta de segurança pública vai mais além do que isolar em presídios federais líderes das facções criminosas que tomaram conta da ex-pacata Maranguape a São Paulo.
Tudo no Brasil, repetidas vezes, é um recomeço ou café em banho Maria. Ajudará a paz pública confinar bandidos classificados de altamente perigosos em complexos quase sem comunicação? Não será em vão, mas até aqui não teve lá grande eficácia.
Fosse assim, o Rio de Janeiro não estaria sob intervenção militar do Exército.
O traficante Fernandinho Beira-Mar, por exemplo, que está numa federal em Mossoró (RN), não deixou de ter seus negócios tocados por substitutos ou por herdeiros. Porque é mais ou menos assim a lógica dos empreendimentos fora da lei protagonizados por Beira-Mar, Marcola e outros caras do crime.
Outro nó vai ser identificar, na multidão de presidiários que se fez no Brasil, quem realmente é líder e "merece" deixar os presídios estaduais transformados em territórios expandidos das quadrilhas.
A primeira penitenciária federal foi construída em 23 de junho de 2006, em Catanduvas (PR). Era a aposta para neutralizar a liderança nos presídios e, também, sufocar o que não poderia ser "ressocializado" segundo a cultura carcerária e de "segurança pública".
Foram construídas mais três: Campo Grande/2006, Porto Velho/2009 e Mossoró/2009. Brasília e Rio Grande do Sul serão os próximos territórios "contemplados" com esse tipo de equipamento.
Doze anos depois de Catanduvas, os estados continuam pedindo vagas para os bandidos mais indomáveis. Ou, a exemplo do governo cearense, que aposta na construção do primeiro presídio de segurança máxima.
De Catanduvas para cá, e no meio do processo de empoderamento das facções, a multiplicação de presos provisórios é absurda. A celeridade do Judiciário ainda é um calo. A solução de inquéritos/processos, notadamente os que investigam/julgam execuções com autoria desconhecida, não passa de 10%...
Sergio Moro terá de ser mais que um superministro. E, se meter na cumbuca dos outros, inclusive na área social e em outros poderes.
Demitri Túlio
demitri@opovo.com.br