Uma campanha de confortos e desconfortos
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Uma campanha de confortos e desconfortos

2018-10-16 01:30:00

O tempo corre a favor do candidato Jair Bolsonaro (PSL) e contra Fernando Haddad (PT) na disputa de segundo turno pela Presidência da República. Nenhum instituto fez ainda duas pesquisas desde quando a campanha recomeçou para se ter uma base comparativa mais segura, embora todos os números até agora disponíveis indiquem uma vantagem de difícil reversão no tempo de apenas 13 dias que resta até que o esperado 28 de outubro chegue. Difícil é, impossível não.

 

O real é que a campanha de Haddad precisaria de uma postura diferente em seu favor dos que ficaram de fora da eleição e rejeitam Bolsonaro. O tal "apoio crítico" de Ciro Gomes (PDT), opção de 12,4% dos eleitores na votação do dia 7, tem soado, para muitos, como uma espécie de liberação de quem optou por seu nome antes para que, agora, faça a opção que pessoalmente lhe convier. O que se presume, pelo que colhem os institutos, é que a maioria está indo para o candidato do PSL, numa aparente contradição.

 

Sem um gesto claro de Ciro em seu favor e com a relutância em abraçar a campanha petista de líderes tucanos referenciais, como Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, Haddad é posto em isolamento numa hora delicada, em que precisa demonstrar-se fortalecido e amparado para seu projeto de enfrentamento de uma candidatura que se mantém resiliente e não sente qualquer efeito de um debate político que coloca em dúvida, para o futuro, sua capacidade de manter o Brasil como um país democrático.

 

Com menos de duas semanas pela frente, a campanha do PT precisará de uma nova onda, agora em seu favor, para reagir, se aproximar mais do adversário e conseguir chegar à reta final em condições de disputar os votos dos 11% por cento de eleitores que, conforme os números divulgados ontem pelo Ibope, a essa altura ainda cogitam anular ou não sabem em quem votar para presidente da República. Coisa de 13 milhões de pessoas, considerado o comparecimento do primeiro turno, ou seja, é muita gente ainda à procura de um candidato para chamar de seu.

 

Os próximos dias apresentarão um ritmo de ataques cada vez mais intensos de Haddad contra Bolsonaro, que, por sua vez, permanecerá se movimentando apenas para manter o quadro como está, expondo-se cada vez menos. E, quando possível, fazendo-o em terrenos nos quais pisa macio e se sente em casa, como aconteceu nessa segunda, durante visita à sede do Bope do Rio de Janeiro. Caso eleito, porém, precisará demonstrar capacidade também de frequentar e de respirar ambientes mais hostis e resistentes à sua forma de pensar o mundo.

 

GUÁLTER GEORGE

Editor de Política Do O POVO

gualter@opovo.com.br

 

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