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O silêncio intrigante do candidato que foi sem nunca ter sido

2018-05-09 01:30:00


Joaquim Barbosa sai da disputa presidencial de 2018 sem que, de verdade, tenha entrado nela. A presença do nome dele entre os pré-candidatos ao Palácio do Planalto era mais alimentada por seu “silêncio barulhento” do que propriamente por declarações ou ações concretas de sua parte no sentido de se inserir no processo pré-eleitoral. A missão aparente que lhe cabia era ocupar o espaço que muitos consideram reservado, neste 2018, para um outsider, aquele que busca espaço na política dizendo-se estranho a ela, quando não um inimigo declarado de um modelo tradicional vigente.

 

A relação recente entre o ex-ministro do STF e o partido que escolheu para entrar na nova vida pública, o PSB, nunca demonstrou-se estável, a bem da verdade. Muito por causa do jeitão de Barbosa, imprevisível e indecifrável, sem fazer qualquer esforço pessoal para conquistar a simpatia dos correligionários. Em outros espaços onde ele frequenta, e frequentou, talvez fosse algo desnecessário, mas na política costuma ser uma postura determinante para as grandes decisões que são tomadas. E, sem dúvida, a escolha de candidatura em cenário de tantas incertezas faz parte deste rol de passos fundamentais.

 

A situação é estranha porque a campanha de repente perde um candidato potencial que há tempos frequenta o noticiário relacionado às eleições que se aproximam sem que ele tenha conseguido, até hoje, produzir uma só tese a considerar acerca dos caminhos que imagina para conduzir o País a dias melhores. O que pensa ele sobre o problema da saúde? Como agiria, na presidência da República, para reverter os índices vergonhosos que ostentamos na educação pública? Ou, na segurança? Enfim, falta material que nos permita mensurar a perda efetiva que o debate sucessório nacional terá (caso ele não mude de novo mais à frente e desista de desistir), porque Joaquim Barbosa nunca achou necessário dar qualquer pista de suas reflexões sobre os grandes temas nacionais. É um projeto, por isso, que, apesar da disputa pelo seu espólio no efeito imediato, tende a desaparecer do radar eleitoral sem deixar marca ou saudade.

GUÁLTER GEORGE

EDITOR-EXECUTIVO DE POLÍTICA

gualter@opovo.com.br

 

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