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Prisão de Lula põe em dúvida a continuação do lulismo

2018-04-09 01:30:00
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[FOTO1] Mais do que assanhar novamente as ruas e mudar todos os cenários do processo eleitoral de outubro, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último sábado, 7, também pôs em xeque o horizonte do jeito de governar inaugurado pelo petista. Marcado pela intensa conciliação de siglas e interesses, o futuro do chamado “lulismo” mantém-se incerto assim como os rumos do seu próprio criador.

Especialistas ouvidos pelo O POVO divergem. O prognóstico vai desde o fim do modelo até a continuidade dele, desde que revisado.
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Professora de Ciências Sociais, Monalisa Soares, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), entende o lulismo como um repertório político que se solidificou no imaginário popular. “Ele encarna a percepção das pessoas sobre o que elas querem da política. Não à toa, Lula cresceu nas pesquisas deste ano”, diz a pesquisadora. A permanência desse modelo como algo bom para parcela da população é o que garante a força do lulismo, na avaliação dela. O problema, diz, é saber quem deverá encarnar esse modelo depois de Lula. 


Apesar das dificuldades do atual cenário político, essa forma de política pode permanecer, mas exige revisões. Monalisa defende mudanças no modelo de conciliação e nas formas de acomodar alianças. “É o começo da autocrítica, sinalizada por Lula no seu discurso em São Bernardo do Campo. Ele se questiona sobre quem são os verdadeiros aliados”, considera. A outra mudança viria de uma autocrítica do partido. “O cenário é de reconstrução”, pondera.
 

A opinião da pesquisadora se alinha ao pensamento do cientista político André Singer, da Universidade de São Paulo (USP), maior referência no estudo do tema. Em artigo publicado na Folha de São Paulo no sábado, Singer defende que o “lulismo não morre com a prisão”, mas “terá que se reinventar para sobreviver”.
 

A visão é questionada pelo professor Ruy Braga, chefe do departamento de Sociologia da USP. Para ele, o lulismo - como prática de regulação dos conflitos de classe - não encontra mais espaço no atual contexto. “Não dá mais para acomodar interesses antagônicos. Acho pouco provável que o lulismo se repita”, defende, alertando que o avanço dessa prática esteve atrelado a uma capacidade de crescimento econômico que não está mais no horizonte.
 

O professor considera que, pelo menos em um “futuro próximo”, o que se aponta é para um processo de radicalização da política. Braga sublinha que isso não significa dizer que Lula perde força. “Pelo contrário, ele continua tendo a grande capacidade política de amealhar apoio da sociedade”, demarca, mas aponta para um caminho diferente: “O que surge agora é um Lula sem o lulismo”. 

 

HISTÓRIA
 

PASSADO, PRISÃO E FUTURO

O ex-presidente Lula está preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde sábado, 7, quando ele se entregou.

ESQUERDAS
 

Antes de se entregar, Lula participou de ato em São Bernardo do Campo, marcado pelo apoio popular e de representantes de partidos políticos. A união das esquerdas é destacada pelo pesquisadores como um reflexos da prisão do ex-presidente. O fato, na avaliação dos especialistas, poderá trazer repercussões no cenário político.  

 

QUEM LIDERA?
 

A ausência de nomes que possam levar adiante a política de conciliação de classe surgida com o lulismo é um dos pontos que dificulta a permanência do fenômeno. 

Rômulo Costa

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