Operação da PF em Fortaleza investiga repasse de propinas
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A pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), oito mandados de busca e apreensão foram cumpridos na manhã de ontem pela Polícia Federal durante Operação Tira Teima, que investiga pagamento de propinas a senadores do MDB para obter benefícios em medidas de interesses dos grupos empresariais. As buscas — autorizadas pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator da Lava Jato — ocorreram em Fortaleza, Goiânia e São Paulo.
Os alvos das execuções de ontem são pessoas supostamente ligadas ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE). A operação pretende buscar documentos que consigam aprofundar a investigação que apura irregularidades em doações de campanha por meio de contratos fictícios. A operação decorre da delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Hypermarcas, Nelson Mello.
No depoimento dado em 2016, o delator afirmou que pagou R$ 30 milhões a dois lobistas com trânsito no Congresso Nacional para efetuar repasses para senadores do MDB, entre eles, o ex-presidente do Congresso, Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e Eduardo Braga (AM).
O delator acusa ainda o senador Eunício Oliveira de receber propina para abastecer a campanha eleitoral de 2014, na qual disputou o cargo de governador contra Camilo Santana (PT). O STF autorizou a abertura de inquérito em abril do ano passado, para investigar os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Na operação de ontem, documentos foram recolhidos em seis endereços residenciais e duas empresas. Um deles foi a sede da Hypera Pharma, novo nome da Hypermarcas. Outro ocorreu em um grupo empresarial cearense.
O POVO tentou confirmar os locais onde os agentes cumpriram mandado no Estado com fontes ligadas à Polícia Federal, que não deram os dados sob justificativa que correm em segredo de Justiça. As assessorias de comunicação da PF, tanto no Ceará quanto em Brasília, e do STF também foram procuradas e também não disponibilizaram as informações.
Em nota divulgada ontem, a PGR afirmou que não serão divulgados os nomes de pessoas físicas e jurídicas envolvidas nas investigações porque os inquéritos são sigilosos.
Ontem, Eunício foi questionado sobre a operação durante cerimônia na qual recebeu a medalha da Ordem do Mérito Judiciário Militar e se limitou a responder: “Que denúncia? Não sei de nada”. Mais tarde, por meio da assessoria, informou que ele “não foi alvo da operação”, tampouco “pessoas ou empresas ligadas a ele foram alvo”.
A Hypera Pharma confirmou que que recebeu a operação e reiterou que não é “alvo de nenhum procedimento investigativo, nem se beneficiou de quaisquer atos praticados isoladamente pelo ex-executivo”.
Com agências
DELAÇÃO
O ex-executivo da Hypermarcas, Nelson Mello disse em delação premiada, há dois anos, que Ricardo Augusto, sobrinho do senador Eunício Oliveira, o procurou negociando aporte à campanha do tio no Ceará. O repasse de R$ 3,3 milhões teria sido pago a uma empresa de Salvador, por meio de contrato fictício, ou seja, sem prestação de serviço.
STF
INQUÉRITOS DE EUNÍCIO
LAVA JATO
Além dessa investigação, o senador Eunício Oliveira (MDB-CE) tem outro inquérito aberto no STF em seu nome. Em abril de 2017, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, abriu investigação contra Eunício com base em delações da Odebrecht.
CONGRESSO
Eunício é acusado de receber R$ 2 milhões em troca de atuar no Congresso Nacional para converter em leis medidas provisórias que beneficiassem o grupo. O senador nega.
Rômulo Costa