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O que dificulta a candidatura de Joaquim Barbosa

2018-04-21 01:30:00
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Surpresa na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada no último domingo, 15, na qual oscilou entre 8% e 10% das intenções de voto, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (PSB) ainda tem longo caminho a percorrer para se firmar candidato à Presidência da República.
Além da decisão pessoal de entrar na disputa, Barbosa precisa superar resistências dentro do próprio partido. A principal preocupação de correligionários é que a oficialização da candidatura dificulte alianças nos estados onde o PSB lançará nomes para disputa majoritária.

 

Uma eventual candidatura de Barbosa terá que contornar questões específicas em cada estado. Em Pernambuco, por exemplo, o governador Paulo Câmara, que tenta reeleição, não quer abrir mão do apoio do ex-presidente Lula (PT) ou de qualquer nome apoiado pelo petista, que está preso desde 7 de abril na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

 

Em São Paulo, Márcio França assumiu como governador após Geraldo Alckmin sair para tentar a Presidência e quer o apoio do tucano para seguir no poder.
No Ceará, há outro impasse. O deputado federal e presidente estadual do PSB, Odorico Monteiro, não descarta a possibilidade de o partido nacionalmente se aliar a Ciro Gomes, pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo PDT. “A tendência no Ceará é que o PSB acompanhe o governador Camilo Santana (PT). Há uma corrente no partido que quer uma indicação para vice da chapa do Ciro”, complementa Odorico, esquivando-se de avaliar possível candidatura de Barbosa.

 

Em reportagem publicada no O POVO, no último dia 26 de março, Odorico afirmou que “a alma do PSB hoje é pró-Ciro”. Ontem, ele afirmou que o partido trabalhará para colocar em prática os termos aprovados no congresso nacional da sigla. “A candidatura dele não está oficializada. E as prioridades do partido são trabalhar dez candidaturas para governador e fortalecer as alianças de centro-esquerda”, afirma Odorico, reforçando que ainda é cedo para projetar cenários, visto que o próprio Barbosa não está convencido da candidatura e integrantes do partido ainda dialogam sobre o assunto.

A cúpula nacional do PSB também adota cautela ao tratar do assunto. O mais otimista é Carlos Siqueira, presidente da sigla. “Queremos apresentar um candidato que possa renovar o Brasil. A candidatura Eduardo Campos (presidenciável da sigla no pleito passado, morto em acidente aéreo em plena campanha) teve mais resistência no PSB do que Joaquim Barbosa”.

A declaração foi dada à rádio Eldorado um dia após reunião entre Barbosa e outras lideranças do partido para discutir a conjuntura política atual. Um novo encontro é esperado para debater ideias para a economia. Filho de Eduardo Campos e chefe de Gabinete do governador Paulo Câmara em Pernambuco, João Campos é da corrente mais relutante a Barbosa, mas nega veto ao ex-ministro no partido.

 

“Conversamos com diversas frentes de esquerda. Qualquer aliança nacional deve estar alinhada com as causas e diretrizes que defendemos. Se ele (Barbosa) se enquadrar nisso, o PSB pode apoiá-lo”, afirma João.

 

Na pesquisa Datafolha, Barbosa oscilou na preferência dos entrevistados, ocupando a 3ª ou a 4ª posição, empatando tecnicamente com outras candidaturas mais consolidadas como as de Ciro e Alckmin.

com agências

 

O QUE PESA A FAVOR E CONTRA BARBOSA 

 

A FAVOR

 

> O desempenho de Barbosa na pesquisa Datafolha pode ser atribuído à imagem que o ex-ministro tem de outsider, sem os ‘vícios’ da política tradicional, o que pode angariar votos com eleitores insatisfeitos com o quadro atual.

> Foi relator do processo que julgou o caso do Mensalão no STF, o que ainda confere a ele a imagem de combatente da corrupção.

> Com posicionamentos liberais enquanto ministro do STF, Joaquim Barbosa pode abocanhar possíveis eleitores de Marina Silva (Rede).

CONTRA

 

> Lideranças do PSB nos estados ainda relutam a apoiar Joaquim Barbosa, pensando no apoio de outros presidenciáveis nas eleições para governador.

> A própria indefinição de Joaquim Barbosa em oficializar a candidatura pode atrasar a formação de alianças.

> Barbosa teria pouco traquejo no “fazer política” e no trato com outros políticos.

> A resistência dos eleitores de Lula e de centro-esquerda por ligá-lo ao julgamento do Mensalão e à condenação de petistas importantes, como
José Dirceu.

 

STF

 

DECISÕES IMPORTANTES

 

Posições de Barbosa no STF ajudam a construir o perfil do ex-ministro:

PRISÃO ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO

Joaquim Barbosa foi relator em 2006 do julgamento de habeas corpus que discutia se um condenado poderia cumprir pena antes de esgotadas as possibilidade de recursos. Votou sim e foi voto vencido na 2ª Turma, que teve o entendimento de que isso seria incompatível com o princípio da presunção de inocência.

PROGRESSÃO DE REGIME PARA CONDENADOS POR CRIME HEDIONDO

Barbosa também ficou vencido quando o Pleno do STF entendeu que condenados por crimes hediondos têm direito à progressão da pena. O Tribunal entendeu que a proibição seria inconstitucional por violar o princípio da individualização da pena.

EMBATE COM A OAB

Barbosa evitava receber advogados em seu gabinete. Ele alegava que tal prática era inconstitucional. Ele acreditava que isso viola o devido processo legal e a igualdade de armas entre as partes litigantes. A OAB argumentava que os advogados têm o direito garantido em lei de ter reuniões.

AÇÃO PENAL 470

Barbosa foi o relator do inquérito que deu origem à Ação Penal 470, que julgou os 40 réus do caso do Mensalão. Ele propôs que o tribunal discutisse o desmembramento do caso, oque poderia levar os réus sem foro privilegiado para julgamento em 1ª instância. Mesmo propondo o debate, Barbosa votou contra e foi seguido pela maioria, que decidiu julgar todos a nível de STF.

 

João Marcelo Sena

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