Meu preparo intelectual e moral foi todo basilado no CE, diz general
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Meu preparo intelectual e moral foi todo basilado no CE, diz general

2018-04-30 01:30:00
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Depois de 45 anos na carreira militar, o general Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, agora na reserva, deixa as Forças Armadas para se arriscar na militância político-partidária. Recentemente filiado ao PSDB, ganhou no ninho tucano a confiança do senador Tasso Jereissati para bancar sua pré-candidatura ao Governo.

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Theophilo nasceu no Rio de Janeiro, tem raízes no Ceará e anunciou de forma definitiva que é o nome do PSDB para disputar com Camilo Santana, em outubro, a cadeira de governador. Tentando, de início, moderar o discurso, evita críticas diretas ao governador petista, embora aponte deficiências na gestão.


Confira a íntegra da entrevista:


O POVO - Seu nome tem surgido nos últimos dias como o nome da oposição para liderar o processo eleitoral na disputa majoritária, mas o senhor ainda é um desconhecido do grande público. De quem nós estamos falando?

General Theophilo - Sou um cearense desde 1955, apesar de ter nascido no Rio de Janeiro por um azar meu. Digo que por azar por um incidente de percurso. Meu pai era militar também, foi fazer um curso no Rio e, por acaso, eu nasci em março. Em dezembro já estava de volta ao Ceará. Daí, a minha vida toda foi dedicada ao Ceará. Tenho todo um ensino fundamental e médio no Ceará. Fiz o ginásio e científico no colégio Militar de Fortaleza e fui para o Rio de Janeiro porque a academia só existia lá. Durante o período da juventude, foi uma vida toda de competições esportivas, sempre fui muito dedicado ao esporte. Fui atleta do Náutico Atlético Cearense, joguei pelo Fortaleza, tive um contrato como juvenil do Fortaleza — apesar de ser torcedor do vovô —, e a vida toda, meu preparo intelectual esportivo, moral foi todo basilado aqui no Estado d o Ceará. Depois saí oficial e, por diversas vezes, voltei ao Ceará servindo. Tive a oportunidade de comandar o Grupo de Artilharia, o GAC, e nesse momento tivemos 67 municípios no interior do Ceará em que fazia a distribuição da água, a operação pipa. Então, conheci esse interior todo. Participei de tantas viagens de inspeção, de controle da pipa. Conheço o Ceará como a palma da mão. 

OP - O senhor se filiou recentemente ao PSDB. Por que o PSDB? Como o senhor se define ideologicamente?

Theophilo - Eu aprendi que a virtude sempre está no meio. Eu sou de centro, nem sou extremista de direita, nem de esquerda. Por que o PSDB? Nesses últimos anos tive oportunidade de servir na Amazônia, e lá é um desafio muito grande de saúde, de educação. É como se eu fosse governador de quatro estados. Eu tinha sob minha responsabilidade quatro Estados muito pobres e sem atenção do Governo Federal. E lá eu conheci o prefeito Arthur Virgílio do PSDB, e foi o primeiro contato com um político que eu entendi como político decente que me fez ver as vantagens do partido. E fui convidado para ser candidato a deputado federal pelo PSDB do Estado do Amazonas. Mas, como bom cearense, acho que poderia prestar melhores serviços ao meu Estado. Minha esposa já morava aqui há um ano, veio antes de eu me aposentar porque ela é funcionária do TRT (Tribunal Regional do Trabalho). Vindo para o Ceará, tive um contato com o deputado Raimundo de Matos e como senador Tasso Jereissati. Começamos uma conversa em Brasília, e agora aceitei esse desafio de ser um pré-candidato do PSDB porque acho um partido sério. É onde eu posso continuar servindo a pátria de outra maneira. Servia como militar e agora vou servir como homem público, livre com honestidade, firmeza de propósitos e com foco nos resultados do meu Estado. Tentar acabar com a seca, temos a transposição que está para ser efetivada há vários anos, tentar colocar a engenharia do Exército nessa missão que é difícil, mas factível. Acredito que tenho muito potencial para ajudar o nosso Estado.

OP - Por que a carreira política agora? Em razão da aposentadoria ou pelo clima do País hoje?

Theophilo - Resolvi me filiar no intuito de aproveitar um pouco da minha juventude (tem 63 anos), entre aspas, e do potencial que tenho para ajudar o meu Estado.

OP - Quais são as suas influências políticas que irão direcionar a sua atuação na militância político-partidária?

Theophilo - Tivemos excelentes políticos no decorrer da minha vida profissional que admirei, o senador Jarbas Passarinho, ex-militar que teve atuação destacada na política, é um deles e, posteriormente, o senador Tasso Jereissati. É uma pessoa que eu vejo com uma visão empresarial, como o prefeito Arthur Virgílio. É muito importante o homem público ter uma visão empresarial, de dar lucro. Eu dizia há pouco tempo atrás: o Exército tem que dar lucro. E muitas vezes eu era mal interpretado. O dinheiro que a sociedade está empregando nas Forças Armadas e eu (à época) como comandante logístico, tenho que fazer esse dinheiro render mais, fazer mais com menos. Não posso deixar alimentação e medicamentos nos hospitais vencer, a munição também, o fardamento… Tudo tem que ter uma aplica&cce dil;ão correta numa gestão baseada em resultados. Assim que eu pautei a minha vida e quero agora fazer a mesma coisa na vida pública.

OP - O que o senhor pensa do Ceará?

Theophilo - Eu acho que o Ceará é um Estado pobre, mas com potencial muito grande, principalmente na área da educação. Os grandes cérebros do Brasil são cearenses. Isso já remonta a um passado de (o escritor) José de Alencar, do (ex-ditador) Castelo Branco, e tantos outros. Mas hoje um dado que não tem como contestar são os candidatos aprovados no IME (Instituto Militar de Engenharia) e ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Duas maiores escolas que têm os vestibulares mais difíceis e o maior número de aprovação é do Ceará. Se o ensino privado faz isso, por que o ensino público não pode ter isso aí? Por que não podemos intensificar a inovação, colocar startups, empreendedorismo, pegar esse juventude e fixar ela aqui? Arrumar um mercado para que eles trabalhem aqui e não vá para Rio de Janeiro e São Paulo e nunca mais voltem. O Estado não absorve essas capacidades.

OP - Como o senhor avalia a gestão do governador Camilo Santana?

Theophilo - Eu não tenho agora base para avaliar o Camilo nesse momento. Ele é de outro partido e que eu conheci recentemente. Ano passado, tive projeto de trazer um campus avançado do Instituto Militar de Engenharia para o Ceará. Tive uma reunião com ele, com o prefeito de Caucaia e uma equipe que ele montou. O projeto não foi adiante. Então, foi o único contato que tive com ele. Acho, no meu caso que tenho toda uma família que mora aqui, mães e oito irmãos, e sobrinhos que moram em Fortaleza, que a violência é muito preocupante porque todos os meus sobrinhos foram assaltados. Inclusive eu de férias, todas as férias eu faço questão de vir ao Ceará quando estava fora, fui assaltado. Só tinha uma aliança na mão. O bandido levou a minha e a da minha esposa na Praia do Futuro. Realmente a segurança é um p roblema. E a saúde, que vejo pelos hospitais que eu tinha como base na minha infância, como é o de messejana que era uma referência em transplante, hoje, pela notícia de jornal, vejo pessoas nos corredores esperando atendimento. Na educação, muita evasão escolar… Mas é uma avaliação de mídia, de imprensa, que eu não posso embasar uma opinião concreta sobre o governador Camilo.

OP - Nas pesquisas da oposição, a segurança pública tem aparecido como a principal chaga do governo Camilo. O senhor acredita que essa questão da segurança é o grande problema da gestão e o que vai pautar a campanha?

Theophilo - Eu acho que esse é um problema do nosso País. Recentemente fizemos uma intervenção no Estado do Rio de Janeiro, da qual participei do planejamento como comandante logístico. Estamos vendo alguns Estados com problemas críticos, como o Rio Grande do Sul, Minas Gerais, o próprio Rio de Janeiro, o Ceará, o Rio Grande do Norte. Estive na Amazônia porque há uma ligação muito grande do crime organizado. Quando eu estava em Manaus encontramos lá a Família do Norte que liga aqui com o GDE (Guardiões do Estado) do nosso Estado. O que nós precisamos é uma atuação a nível federal e acabar com essa guerra de fronteira. Porque essa guerra alimenta o crime organizado. Se conseguir fechar a fronteira e evitar que a logística, a cocaína, maconha, armamento, contrabando alimente esse crime organizado, vamos matar p or inanição. Mas como o Governo Federal não está fazendo isso, vejo como dever de casa a agente reforçar as fronteiras do nosso Estado. Fazer policiamento maior nas fronteiras, com rodízios, nos portos e aeroportos e integrar esse sistema de inteligência federal. Com isso vamos reduzir muito a violência no Estado do Ceará, investindo em tecnologia e inteligência. Só contratar policial e comprar viatura não resolve o problema.

OP - A intervenção no Rio de Janeiro tem sido positiva?

Theophilo - Foi uma intervenção mais política do que focada em uma eficácia. Com essa intervenção, o governo parou com a Reforma da Previdência. Eu não estou falando nenhuma novidade, isso é fato. E o tempo da operação é muito pouco porque o contrato da operação é até dezembro desse ano. Você não resolve o problema do Rio de Janeiro em oito ou nove meses. Exige muito mais tempo. Botar um secretário de segurança general do Exército e um interventor general do Exército não acredito que vai resolver o problema. Você vai desgastar a imagem do Exército e tirar a responsabilidade do governo. E a responsabilidade é do governo estadual. 

OP - A sua pré-candidatura ao Governo do Estado está definida dentro do partido? É irreversível?

Theophilo - Tivemos uma reunião com a cúpula do PSDB e a pré-candidatura está definida. Agora, estamos num momento de avaliação política. Eu sou um desconhecido ainda na política do Ceará. Acredito que a partir de agora, com a exposição de mídia, percorrendo mais os nossos municípios do nosso Estado, vou fazer uma apresentação para a população.

OP - Tendo em vista a sua longa carreira militar, o senhor terá capacidade de diálogo com o parlamento, em caso de sucesso na disputa eleitoral?

Theophilo - Tenho grande experiência nessa parte de negociação. Eu tenho cursos. Trabalhei agora nos dois últimos anos na carreira militar como maior comprador do Exército, com orçamento de R$ 3 bilhões, negociando do sapato ao foguete de último modelo que o Exército compra. Negociando com vários empresários, com políticos, porque tinha interferências políticas na compra, em relação ao prestígio que temos que dar à indústria nacional. Jogar no meio de empresários e políticos diante de tantos interesses econômicos me deu um background muito grande nessa área de negociação. Por duas vezes eu fui convocado ao Creden - Comissão de Relações Exteriores de Defesa Nacional do nosso Congresso - para falar na CPI da Funai, por causa dos índios, e eu fui sempre um defensor das populações indígenas. E também do Exército que eu montei na Amazônia e que os partidos de oposição estavam dizendo que eu estava vendendo a Amazônia para os americanos. Por duas vezes negociei lá. A minha vida foi devassada pelos deputados e não encontraram nada que pudesse denegrir a minha imagem. E a negociação foi tão bem que o Exército foi realizado e a CPI da Funai terminou com resultado positivo para as Forças Armadas.

OP - A articulação da oposição demorou muito para lançar um nome que liderasse o grupo. Como o senhor se fará conhecer pelo eleitor em tão pouco tempo?

Theophilo - Agora é percorrer o Estado acompanhado do senador Tasso e de alguns políticos de renome do nosso partido, como Roberto Pessoa, Domingos Neto, que estão dentro da coligação, e começar a conversar. É importante que se diga que nós como militares, e eu servi várias vezes em Fortaleza, muitas vezes estamos no interior e aparece um ex-soldado, um ex-cabo, que já conhece você porque serviu com você aqui e depois foi para o interior. E acho que não sou um total desconhecido. Até porque a área de Tauá, de Juazeiro do Norte é uma área que eu sempre visitei. Em Tianguá sempre circulei muito. Nesse momento de caminhar com os políticos vai ser só uma reafirmação de um nome que já é conhecido. Quem não conhece Rodolfo Teófilo, um grande sanitarista daqui? Quem não conhe ce a família Cals que já esteve na política, como o (ex-deputado) Marcos Cals, por exemplo? São todos parentes. Quem não conhece o antigo prefeito Cesar Cals Neto? Meu primo legítimo, filho do irmão da mamãe. Tenho certo conhecimento dessa área também. 

OP - Seu nome acabou substituindo o do deputado Capitão Wagner na corrida eleitoral pelo lado da oposição. Já há união do grupo em torno da sua pré-candidatura?

Theophilo - Ontem (quinta-feira) na reunião foi a primeira vez que nós tocamos já nas coligações. Já há uns entendimentos em andamento para que os partidos possam ver quem vai coligar com o PSDB. Em particular, o Capitão Wagner é um grande amigo e foi a pessoa que me deu um título de cidadão cearense (em 2016), foi proposto por ele. É uma pessoa que eu admiro e tenho muito bom relacionamento. Tenho certeza que vamos poder aprofundar essas conversações. 

OP - O senhor vai ser o candidato da segurança pública?

Theophilo - Tem se veiculado muito que a minha grande experiência é na área da segurança pública. Na educação fui três anos diretor de educação técnica militar do Exército, que é diretoria que trabalha no nível médio. Tenho experiência de montagem de curso por competência, baseado nas capacidades. É uma área de muita importância porque a educação traz a reboque saúde e segurança. Se você tem um povo educado, vai ter um povo com menos doença, e mais respeitador. Vamos ter menos problemas de violência, acho que a educação é fundamental. Trabalhei muito nos colégios militares, que é ensino público e tem grau de excelência. Na área de saúde, na época da Amazônia, fui diretor de quatro hospitais que trabalha com o SUS. Regiões que passam por questões complicadas. E as áreas que o Estado está precisando de atenção urgente é educação, saúde, segurança, a parte hídrica. Eu gostaria de ser o candidato da educação, da saúde, da geração de emprego, e também da segurança.


CAMILO REAGE


“ADVERSÁRIO NINGUÉM ESCOLHE”


O governador Camilo Santana (PT), procurado pelo O POVO, evitou comentar a possibilidade de enfrentar o General Teophilho na campanha à reeleição. Veja a integra da rápida conversa dele com o repórter Isaac de Oliveira na manhã do último sábado:


OP: Governador, como o senhor vê a indicação do general Teophilo pela oposição para concorrer ao Governo do Estado?


Camilo Santana: Candidato a gente não pode escolher, da oposição. Adversário ninguém escolhe.


OP: Nenhum comentário?


Camilo Santana: Nenhum comentário.

 

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Wagner Mendes

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