Rodrigo Janot: "A corrupção é tão velha quanto o próprio País"
Onde foi parar tanto dinheiro?”. Foi com esse questionamento que o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, iniciou ontem palestra no encerramento da Semana do Ministério Público do Ceará, em Fortaleza.
No evento, que reuniu membros do MP, advogados e estudantes de direito, Janot narrou o início das investigações da Operação Lava Jato, apontou os números, e fez comparações com a Operação Mãos Limpas, da Itália, que desvendou o maior esquema de corrupção daquele País.
O subprocurador-geral, ao alegar que a “corrupção é tão velha quanto o próprio País”, afirmou que combater a corrupção “requer coragem e resiliência”.
Durante palestra, o ex-chefe do Ministério Público Federal (MPF) elencou pontos que foram fundamentais para que as investigações chegassem ao nível que chegou, prendendo empresários e políticos importantes.
Mudanças na legislação, a instalação da TV Justiça, a ajuda da tecnologia e o apoio popular foram “atores” que alavancaram o processo de investigação que teve como mote a Petrobras.
[QUOTE1]Janot apontou movimentações da classe política brasileira como “reações” contra o trabalho de investigação do Ministério Público. “Queriam convocar a minha filha (na CPI da JBS). Ela não tem nada a ver com as investigações”, disse. “É assim que funciona a organização criminosa”, completou.
Ironia
O ex-procurador-geral utilizou da ironia para alfinetar o presidente Michel Temer (PMDB). Autor de duas peças de acusação contra o peemedebista por organização criminosa, obstrução de justiça e corrupção passiva, Janot lembrou que os primeiros valores encontrados nas investigações da Operação Mãos Limpas eram inferiores aos R$ 500 mil encontrados com interlocutores do presidente. A associação acabou arrancando risos da plateia.
Ainda em tom humorístico, o ex-chefe do MPF lembrou dos R$ 51 milhões encontrados em um apartamento da Bahia, ligado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima. Ele perguntou de forma retórica se a quantia encontrada era suficiente para comprovar ilicitude.
Por fim, ao citar o nome de um dos braços direitos de Temer, o deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS), Janot bateu na madeira e voltou a levantar risos da plateia de advogados.
Saiba mais
A palestra do atual subprocurador-geral da República integrou a programação da Semana do Ministério Público 2017, que discutiu temas jurídicos atuais em comemoração ao Dia Nacional do Ministério Público, celebrado na última quinta-feira, 14.
Rodrigo Janot integrou a chefia do Ministério Público Federal por dois mandatos com indicações da ex-presidente Dilma Rousseff, sendo substituído por Raquel Dodge, que foi indicada pelo presidente Michel Temer.
Wagner Mendes