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Ministro deu aval para empréstimo alvo da PF

2017-12-23 01:30:00
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Suposta fraude no Banco do Nordeste alvo ontem de operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União teve aval de conselho presidido pelo ministro do Planejamento do governo Michel Temer, Dyogo Oliveira.


Na manhã de ontem, PF e CGU deflagraram a Operação Caixa 3, que apura financiamentos de quase R$ 830 milhões concedidos pelo BNB à cervejaria Itaipava. O valor, liberado em 2013 em duas parcelas - de cerca de R$ 380 milhões e R$ 450 milhões - foi utilizado na construção, executada pela Odebrecht, de duas fábricas da empresa na Bahia e em Pernambuco.

[SAIBAMAIS]

A fraude foi detectada após o conselho do BNB aprovar, em 17 de setembro de 2014, mudanças na garantia pedida pelo BNB em troca do empréstimo. Na ocasião, o banco trocou a exigência de fiança bancária, de altos custos para a empresa, pela hipoteca do maquinário da fábrica.


A alteração, além de quebrar regras do BNB, ainda envolvia máquinas que estavam alienadas a um banco alemão. Segundo a investigação, irregularidades foram contornadas por meio da gestão fraudulenta do empréstimo por técnicos do BNB, que fraudaram análise de risco do caso.


Lava Jato no Ceará


Segundo O POVO apurou, etapa deflagrada ontem busca colher provas para estabelecer vínculos entre as irregularidades e denúncias levantadas por reportagem de 2015 da revista Época e pela delação da Odebrecht na Lava Jato.


Conforme a publicação, mudança nos empréstimos teria sido aprovada em troca de doações da Itaipava à campanha de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) à Presidência em 2014. Já neste ano, o delator Benedicto Júnior, ex-diretor da Odebrecht, afirmou à Justiça que a empreiteira usou obras de cervejarias no Nordeste para fazer “caixa três” para campanhas.


Segundo a Justiça Eleitoral, o Grupo Petrópolis, que controla a Itaipava, passou a fazer doações para a campanha da petista a partir de 29 de setembro, 12 dias após a mudança do banco. Ao todo, foram quatro repasses somando R$ 17,5 milhões - valor próximo ao “economizado” pela Itaipava com a mudança da garantia do BNB.


De acordo com uma fonte ligada à operação, uma das linhas de investigação apura se um ou mais membros do conselho de administração teriam servido de “elo” entre empresas e campanhas políticas. Em agosto deste ano, a PF intimou Dyogo Oliveira para prestar depoimento sobre o caso.


Questionado pela reportagem sobre a participação do ministro na aprovação das mudanças investigadas, o Ministério do Planejamento afirmou que Oliveira "não foi acusado, em nenhum momento, de qualquer irregularidade enquanto esteve no conselho de administração do BNB".


Já o BNB afirmou que o crédito citado já foi alvo de auditoria interna em 2013, “inclusive com vista à avaliação de eventual conduta funcional”. O banco afirma ainda que, assim que constatou irregularidades, tomou medidas para regularizar situação. O POVO tentou consultar atas de reuniões do conselho, mas parte delas é protegida por sigilo.


O Grupo Petrópolis disse que está à disposição para qualquer esclarecimento.

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Carlos Mazza

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