PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Um país fantástico

2017-09-15 01:30:00

 

Henrique Araújo, editor-adjunto de Conjuntura

 

Rodrigo Janot, que se despede do cargo no domingo, 17, desferiu seu golpe mais duro contra Michel Temer: acusou o presidente de capitanear uma organização criminosa responsável por pilhar quase meio bilhão de reais por meio de um esquema que envolvia deputados e ministros distribuídos em empresas públicas. Parece pouco? Furnas, Petrobras, Caixa e por aí vai, todas funcionamento segundo a mesma lógica de rapinagem. O procurador-geral da República ainda disse que Temer e outros peemedebistas de alto calibre (Cunha, Henrique Alves, Eliseu Padilha, Jucá, Geddel, Moreira Franco e cia.) mancomunaram-se para afastar a ex-presidente Dilma Rousseff a fim de barrar as investigações da Operação Lava Jato. Do grupo, uma parte está presa e a outra está no governo, onde aguarda que a Polícia decida seu futuro. Sobre tudo isso, as respostas do presidente têm sido débeis: alega perseguição da PGR e ataca os delatores da JBS, com quem se reuniu no Jaburu tarde da noite em encontros fora da agenda a quem indicou Rocha Loures (também denunciado) como homem de confiança.


O chefe do Executivo acrescenta que a acusação de Janot é "realismo fantástico em estado puro". O presidente ajudaria a tornar o dia a dia dos brasileiros menos fantástico se explicasse, por exemplo, a quem se destinava a mala de dinheiro carregada por um de seus auxiliares diretos e como R$ 51 milhões foram parar num apartamento do seu ex-ministro. É bem provável que os deputados deem pouca importância a esses detalhes quando a denúncia finalmente chegar à Câmara, talvez na próxima semana. Enquanto isso, o Brasil vai virando mesmo um país mais apropriado à imaginação de García Márquez.

Adriano Nogueira

TAGS