Joesley nega orientação para gravar Temer
O empresário Joesley Batista, do Grupo J&F, negou, em depoimento ontem à Procuradoria-Geral da República (PGR), ter recebido orientações do ex-procurador Marcelo Miller para negociar acordo de colaboração premiada ou gravar o presidente MichelTemer (PMDB).
O delator mudou a própria versão, colhida nos áudios recebidos pela PGR, de que usaria Miller para se aproximar de Rodrigo Janot com objetivo de negociar acordo de colaboração com imunidade penal, com a garantia de que não seria denunciado pelo Ministério Público.
O depoimento do empresário durou cerca de duas horas na sede da PGR, em Brasília. No mesmo dia também foram ouvidos o diretor jurídico do grupo, Francisco de Assis, e o diretor e lobista Ricardo Saud.
Os delatores disseram que já conheceram Miller na condição de advogado - que ele estava na transição para um escritório de advocacia e que não teve ingerência na delação premiada do grupo. Segundo eles, Miller foi avisado de forma superficial sobre a intenção de buscar a PGRpara delatar.
Em relação às declarações envolvendo ministros da Suprema Corte, de que teriam nomes “na mão”, Joesley disse ter feito menções “genéricas” e que não possui informações comprometedoras sobre ministros da Corte. Nos áudios, forma citados Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski.
Os colaboradores foram chamados a prestar depoimentos após a divulgação de novas gravações. Os áudios causaram a abertura de um processo de investigação que poderá prejudicar os benefícios cedidos aos delatores ligados à JBS.
Nos últimos dias na chefia do Ministério Público Federal, Rodrigo Janot deverá decidir ainda hoje sobre possível revisão nas condições acertadas para a colaboração dos envolvidos.
Em um provável entendimento de Janot de que houve omissão de informação, o que poderia comprometer o resultado das investigações, Joesley e pessoas ligadas e outros delatores podem perder a imunidade penal e até serem presos no curso das investigações.
A possível reformulação do processo de delação é encaminhada ao ministro Edson Fachin, que relata a Lava Jato, para deliberação.
com agências
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O procedimento de revisão do acordo de delação premiada é conduzido pela subprocuradora da PGR Cláudia Marques.
Hoje a subprocuradora irá ouvir Marcelo Miller, o ex-procurador da República. Ela também precisa analisar informações do escritório Trech, Rossi e Watanabe - onde o então procurador chegou a trabalhar após ser exonerado do Ministério Público Federal.
Rodrigo Janot concedeu inicialmente até hoje para que todos os esclarecimentos sejam prestados. A intenção é resolver a situação o quanto antes para solucionar o problema dentro dos 10 dias que ainda possui à frente do cargo de procurador-geral.
Wagner Mendes