"Ditador está fora de moda", diz consultor Mário Rosa
Vida profissional dividida entre afazeres de repórter e editor da revista Veja, assessor de imprensa e consultor de crise. Esse é um dos ângulos pelos quais pode ser visto Mário Rosa, nascido em Niterói (RJ).
Residente em Brasília desde criança, foi nela onde o jornalista, hoje com 53 anos, ergueu carreira e esteve ao lado de nomes como Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Renan Calheiros.
O jornalista esteve em Fortaleza no último dia 19, em evento da faculdade Estácio, para falar de seu último livro, “Entre a Glória e a Vergonha”. As páginas relatam seus 20 anos como consultor de imagem e trazem sua versão acerca da Operação Acrônimo, da Polícia Federal, que investiga suposto esquema de corrupção envolvendo o ex-ministro e atual governador de Minas, Fernando Pimentel (PT).
“Meu caso, penso, foi uma bala perdida”, diz. Durante a conversa, o fluminense falou também de suas percepções sobre Bolsonaro, Michel Temer e defendeu tese de que o Brasil vive “pandemia” de escândalos.
OPOVO - Como o senhor avalia o cenário político atual?
Mário Rosa - Acho que estamos vivendo uma pandemia de escândalos.
Nossas lideranças políticas não foram criadas para viver em um mundo tecnológico, e sim em um ambiente onde se fazia política analógica - antes de Steve Jobs, de Bill Gates. Elas continuaram com suas práticas no mundo digital. Isso gera uma incapacidade de entender como o mundo está funcionando, onde estão os novos perigos. Por exemplo: você vai conversar com o Sérgio Machado e não percebe que ele pode estar gravando-o. Você manda um emaill, como mandou o advogado do escritório que contratou o ex-procurador Marcelo Müller, e imagina que, por ser da rede interna do escritório, esse documento é privado. Ou seja: a grande transformação do mundo de hoje é que acabou a distância entre o público e o privado. Então, há uma incapacidade de entender que a revolução tecnológica fez com que as barreiras entre o público e o privado acabassem.
OPOVO - Como a Operação Acrônimo chegou ao senhor?
Mário Rosa - Meu caso, penso, foi uma bala perdida. Eu tinha contratado uma jornalista (Carolina Oliveira) e ela, anos depois, tornou-se primeira-dama de Minas Gerais. Como ocorreu uma investigação, a Polícia Federal encontrou no apartamento dela notas fiscais que ela havia emitido para mim. Aí, eu entrei nessa história e acabei vivendo um momento muito interessante, que foi o que deixei de ser o cara que dava conselhos para pessoas que estavam envolvidas em escândalos para ser o sujeito que estava vivendo o papel de paciente e não de médico.
OPOVO - Há risco de ocorrer novo golpe militar no País?
Mário Rosa - Não acredito que em uma economia como a nossa nós vamos seguir um ditador. Ditador está fora de moda. Ditador não funciona com mercado livre, com a complexidade que o Brasil tem. A não ser que seja alguém que se eleja. Que vá, aos poucos, tomando a máquina pública.
OPOVO - Quais os desafios da política brasileira?
Mário Rosa - Acho que o nosso grande desafio é manter a democracia e perder a inocência. Entender que somente países avançados podem ter políticos ruins. Porque, quando a gente precisa de político bom, é que a gente não tem instituições sólidas suficientes para se autogerir.
Precisamos entender que não necessitamos de um salvador da pátria.
Nos países avançados, tanto faz quem é o presidente, pois essas nações vão para frente sozinhas. A gente precisa chegar em um sistema democrático em que o Estado está desenvolvendo-se tão bem que tanto faz quem estiver lá. Esse é o ideal que devemos buscar.
Kelly Hekally