De olho em 2018, Capitão Wagner lança cooperativa habitacional
Promessa de campanha nas eleições de 2016, deputado estadual Capitão Wagner (PR) inicia hoje cooperativa para construção de casas para profissionais de segurança pública e servidores públicos. Projeto representa passos para campanha em 2018, avaliam especialistas.
Pré-candidato ao Governo do Estado, a figura de Wagner é central no projeto, com o qual se identifica como “fundador”. Em vídeo promocional, o deputado afirma que a ideia de cooperativas habitacionais tem como objetivo “realizar o sonho da casa própria” de associados.
“Mas como pessoas que não se conhecem formam uma cooperativa? É nessa hora que entra o Capitão Wagner, ajudando em todo o processo”, diz o parlamentar, afirmando que será função “do Capitão Wagner” identificar terrenos “com potencial para acomodar os empreendimentos” e “fazer pesquisa de interesse”.
Figura ao lado de Capitão Wagner também como um dos “cinco líderes da cooperativa” o vereador soldado Noélio (PR), também policial militar. Segundo eles, a cooperativa “não tem objetivo de lucro nenhum”, apenas “objetivo social”.
Professora de Direito eleitoral da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raquel Machado explica que a lei “abrandou muito a ideia de campanha eleitoral” na última reforma, e não há impedimento para a iniciativa.
“Ele está só se promovendo. Mas o problema é querer personalizar (a cooperativa). Quem está fazendo tudo não é ele. Ele desvirtua a ação do conjunto”, diz Raquel.
Percepção similar tem Emanuel Capistrano, presidente da Cooperativa da Construção Civil do Estado do Ceará (Coopercon-CE). Para ele, a ideia é viável e pode trazer benefícios, mas “numa cooperativa todo mundo é igual”. “Tem que dar direito total a todos os cooperadores”, une.
Há de se averiguar, porém, como a negociação será feita, de acordo com Cristiane Britto, vice-presidente da comissão eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Brasília (OAB-DF): não pode haver pressão para voto nas próximas eleições, como troca de favor.
“Dependendo das condutas, ele (Capitão Wagner) poderá ser inserido de alguma forma no artigo 41-A da lei e ter o registro cassado”, avalia. Para tanto, lembra que o associado deve pedir um seguro no momento de filiação.
Para o doutor em Ciência Política pela USP, Josênio Parente, trata-se de “tentativa de se cacifar para 2018”. “Fortalecer esse projeto. O político sempre pensa no poder. 2018 já começou”, diz.
A reportagem tentou entrar em contato com os parlamentares por dois dias, sem retorno de pedido de esclarecimento feito à assessoria.
Saiba mais
Promessa de campanha em 2016
Durante campanha eleitoral para a Prefeitura de Fortaleza em 2016, áudio que circulou pela Internet mostrou Wagner prometendo a policiais militares que, se eleito, o Paço Municipal iria “ceder um terreno” para que “associações construam casa a preço de custo”. “E aí passam para vocês”, continuou. À época, o deputado disse não ver problema na ideia, que era “barganha para o bem da sociedade”, não para benefício próprio.
Daniel Duarte