PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Temer, Neymar e o País

2017-08-03 01:30:00

Temer tem se saído bem. Lembro quando, assim que assumiu no lugar de Dilma, comparou-se, do alto de sua modéstia, à seleção de Tite. Disse que o Brasil melhoraria em suas mãos como o futebol havia progredido sob o comando do técnico. Todos riram.

O fato é que, nos últimos dois meses, o presidente encarou dois mata-matas e venceu ambos. Contra todos os prognósticos, levou as partidas até o fim e, já nos descontos, marcou um gol - tudo bem que com a ajudinha dos juízes, mas isso é outra história. Temer é um craque da grande área do Congresso. É como um desses mágicos que são acorrentados debaixo d’água e, para surpresa de todos, conseguem desembaraçar-se e chegar à superfície - não importa se estão tapeando o público. É o que ele vem fazendo como presidente: atuando como um autêntico escapista. Primeiro foi no TSE, depois que ministros da corte eleitoral livraram-no da cassação ao lado de Dilma, com quem compunha chapa. Então, o discurso era o da estabilidade política, não por acaso o mesmo de ontem, quando deputados foram ao microfone da Câmara anunciar um “sim” murmurado com vergonha. E houve mesmo quem tentasse confundir a opinião pública ensaiando um “não” para, num drible, arrematar com um “sim”, num giro a la Garrincha. Tudo tão diferente do dia 17/4 de 2016, quando esses mesmos parlamentares dedicaram seus votos caudalosos a Deus e à família. Era domingo quando os congressistas aplicaram um severo cartão vermelho à ex-presidente, uma espécie de Dunga da política. As ruas, como as arquibancadas do País dois anos antes, estavam cheias. O Brasil havia vestido seu uniforme de torcedor-manifestante com patrocínio exclusivo da CBF. E, quando o último deputado marcou o voto favorável ao impeachment e foi suspenso no ar pelos colegas do time “Fora, Dilma”, todos gritaram como se comemorassem um gol em final de Copa do Mundo. Mas não ontem, uma quarta-feira de rodada do Brasileirão em que a denúncia de corrupção contra o presidente dividia as manchetes com as notícias sobre a contratação de Neymar, o herói ausente no fatídico 7 a 1, um placar que nos persegue.

 

Henrique Araújo,

editor-adjunto de Conjuntura

 

Adriano Nogueira

TAGS