PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

"É óbvio que o Ciro é uma melhor opção que o Doria"

2017-08-12 01:30:00
NULL
NULL
[FOTO1]

Deputado federal pelo Psol, Jean Wyllys (RJ) afirma que votaria no ex-ministro Ciro Gomes (PDT) no caso de uma disputa entre ele e o prefeito de São Paulo, João Doria, em 2018. Apesar de afirmar que Ciro “está longe” de ser uma alternativa de esquerda para o País, o deputado avalia que o pedetista está “anos-luz” dos demais candidatos mais alinhados à direita.


“Diante do cenário que a gente tem, de o Lula não ser candidato, nem uma candidatura bacana do Psol chegar ao 2º turno, é óbvio que o Ciro é uma melhor opção que o Doria”, disse Jean Wyllys em visita ao O POVO na manhã de ontem.

[SAIBAMAIS]

Na entrevista, o deputado também criticou as reformas propostas pelo governo Michel Temer, falou sobre o futuro da relação entre PT e Psol e fez balanço crítico da Operação Lava Jato.


O POVO - O Psol acabou sendo um dos partidos mais críticos durante todos os governos petistas. Com o impeachment, no entanto, passou a ficar mais alinhado com o PT. Esse alinhamento pode ser mantido como aliança em 2018?

Jean Wyllys - Não vou falar de futuro porque não faço futurologia, quem faz isso é Oráculo de Delfos. Mas é preciso que se entenda que não nos alinhamos ao PT. A gente se alinhou com a democracia. A gente defendeu a democracia de um golpe parlamentar que colocou na Presidência da República um sindicato de ladrões, com um presidente que é acusado de corrupção e comprou deputados para enterrar a possibilidade de investigação contra ele. Nosso alinhamento foi a defesa de uma presidenta democraticamente eleita, mas não votei na Dilma no 1º turno, votei na Luciana Genro. Então não foi uma aliança com o PT, uma aproximação com o PT. Foi a aproximação com uma causa, e nesse sentido é claro que o PT estava defendendo seu próprio governo. Então, antes de qualquer outra coisa, de aliança, acho que nós temos que lutar agora por eleições diretas, porque as de 2018 não estão garantidas. Isso porque há uma tentativa de, durante essa “reforma” política – com muitas aspas nessa palavra reforma – de aprovar o parlamentarismo. O que seria uma desgraça.
 

OP - Além do parlamentarismo, estuda-se uma série de mudanças no sistema político, como o chamado distritão e aumento do fundo partidário. É a reforma
que o povo pediu?

Jean Wyllys - Óbvio que não. Essa não é a reforma que o povo pediu porque o governo Michel Temer não é o governo que o povo pediu.

O povo nunca pediu aumento de gasolina, aumento de imposto, para que cortassem farmácia popular, para que reduzam bolsas de estudantes nas faculdades. Não pediu que congelassem por vinte anos os investimentos em saúde, educação e segurança pública.
O povo não votou para que fosse implementado esse plano que estão fazendo agora. Esse era o dos tucanos, o de Aécio Neves.

[QUOTE1] 

OP - Mas quem votou na Dilma também votou no Temer...

Jean Wyllys - Eu não votei na Dilma para que o Michel Temer se tornasse presidente. Eu votei na Dilma,apesar do Michel Temer. Michel Temer era um vice decorativo que deveria ter ficado no seu papel de vice decorativo, e não sair desse papel e se transformar em um conspirador.

OP - Como vê possibilidade de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) chegar à Presidência?

Jean Wyllys - Ele não vai ser eleito, ele tem um teto. A quantidade de fascistas nesse País tem um limite. Ainda que o fascismo seja contagioso, ele tem um limite. Até porque é burro, ignorante, não sabe falar. Ele não conhece nada de economia, segurança pública. Ele tem frases prontas, de efeito, como “bandido bom é bandido morto”. E um País com 200 milhões de habitantes e a sétima economia do mundo não pode cair na mão de um ignorante desse tipo.

OP - E outros candidatos, como João Doria?

Jean Wyllys - Doria é outro que se apresenta como candidato, esse “prefake”, esse palerma automobilístico, que levou uma ovada quando esteve na Bahia. Aliás, muita gente ficou indignada com o ovo na cara dele, mas pouca gente fica indignada com dezenas de chacinas ocorrendo com a juventude negra e pobre todos os dias. Porque estão preocupadas com o ovo na cara de um demagogo, um cara que sempre esteve na política, sempre parasitou o sistema, e agora quer se apresentar como o novo.

OP - Outro que vem tentando se consolidar como candidato mais progressista é Ciro Gomes.

Jean Wyllys - Acho que não dá para comparar o Ciro com o Doria ou com o outro sujeito, o fascista. Ciro está a anos-luz dessas pessoas. O Ciro é um cara preparado, mais sério em relação ao Doria. Tem muito mais conhecimento, inclusive como gestor. Ele também está a anos-luz do fascista. Agora, ele está longe de ser uma alternativa, como ele quer se colocar. Ciro faz parte da oligarquia aqui no Ceará, não pode se colocar como o novo. Ele pode ser uma alternativa diante do cenário que a gente tem, se o Lula não for candidato, se não houver um candidato bacana do Psol no 2º turno. Mas entre Ciro e Doria, é óbvio que Ciro é uma melhor opção. Mas ele é a continuidade da política com uma roupa nova.

 

OP - O crescimento de candidatos de direita não seria um sinal de que o modelo da esquerda se exauriu?

Jean Wyllys - Jura? Eu acho que é mais uma ofensiva do capitalismo neoliberal. Não se trata de exaurir um projeto de esquerda, porque nunca houve projeto de esquerda. O PT só se elegeu porque se uniu à velha direita. Se uniu ao PP, se uniu ao Sarney, a essa velha oligarquia. Nunca houve governo de esquerda no Brasil, então que mentira é essa?

O que o Lula conseguiu, com muito esforço, foi se conciliar com essa elite corrupta para dar o mínimo para os mais pobres.


OP - Mas o PT não tem dificuldade também em fazer alianças com a esquerda? O próprio Lula se queixa disso com o Psol, a quem chama de “afrescalhados”.

Jean Wyllys - Essa fala do Lula foi bastante infeliz. Essa fala diz mais dele do que do Psol. O que o Lula estava fazendo ali era se desculpando dos erros que ele cometeu. O Lulinha paz e amor, que bebeu uísque com as grandes fortunas, achava que as nossas elites eram democratas e acabou descobrindo que não da pior maneira possível. Tanto que agora está aí, condenado mesmo sem provas. Agora, o Lula tem incapacidade de fazer uma autocrítica. Poderia admitir esses erros e mudar, mas não, não consegue e vai criticar o Psol.

OP - Como avalia a Lava Jato?

Jean Wyllys - A Lava Jato serviu para destituir o PT do poder. Serviu ao impeachment da Dilma, ao golpe parlamentar. Ela poderia ter sido uma operação muito séria, que prendesse de fato os corruptos e não beneficiasse os bandidos como ela vem fazendo. Porque o cara corrompe o sistema, é preso, aí faz uma delação e sai com uma tornozeleira para curtir uma piscina numa mansão, com a fortuna intocada. Ela não vem sendo republicana, senão Aécio Neves não estaria aí, livre, leve e solto. Temer não continuaria presidente. Então, a Lava Jato acabou não combatendo os corruptos de fato, acabou só criminalizando o PT.

 

Carlos Mazza

TAGS