Advogado de Temer desafia Janot e minimiza crise política
O advogado do presidente Michel Temer (PMDB), Antônio Cláudio Mariz, lançou um desafio à Procuradoria-Geral da República (PGR) e pediu provas concretas de que o presidente teria “solicitado, recebido algo ou favorecido alguém”. Mariz entregou ontem, à Câmara dos Deputados, a defesa de 98 páginas nas quais busca derrubar a acusação de corrupção passiva. O argumento da suposta falta de provas dá o tom da estratégia do governo para subsidiar sua base na Câmara dos Deputados.
[SAIBAMAIS]Mariz gravou um vídeo de dois minutos que será distribuído aos parlamentares, reforçando a estratégia de que Temer é inocente e que a gravação do diálogo com o executivo da JBS, Joesley Batista, é ilícita. “O presidente nada pediu, nada recebeu e a ninguém favoreceu. (...). Recorreu-se a suposições, hipóteses e ilações e escreveu-se uma peça de ficção. Uma verdadeira peça de ficção”, reforça Mariz na mensagem.
Em entrevista após deixar a Câmara, o advogado negou que o governo esteja na UTI, em referência à crise política. “Está na lanchonete do hospital, comemorando, trabalhando pelo Brasil”, ironizou o advogado.
O processo
A denúncia contra Michel Temer será votada, primeiro, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Nesta quinta-feira, o presidente do colegiado, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), deverá decidir se chamará o autor da acusação, Rodrigo Janot, e outras testemunhas para depor no debate.
Há um impasse no entendimento sobre as oitivas, já que, a princípio, a tramitação na CCJ não serve para produzir provas ou fazer julgamento, mas apenas para avaliar se há indícios para que o STF processe o presidente e o investigue com mais profundidade.
O advogado de Temer se disse a favor da participação de Janot. “Seria absolutamente conveniente para que eu tivesse a oportunidade de demonstrar a ausência de provas e interrogá-los. (...). Se me perguntarem se eu quero, eu quero sim. Eu sou homem do contraditório. Eu quero estar vis-à-vis com quem acusa o presidente”, disse.
Mariz reclamou que a defesa de Temer não foi chamada na oitiva das testemunhas na Polícia Federal e depoimentos favoráveis ao presidente não foram mencionados na denúncia. “Fizeram uma prova unilateral, e digo mais, uma prova seletiva”, emendou. (com Agência Estado)
Principais pontos da defesa
Um dos destaques da defesa é o desafio que os advogados fazem a Janot, para que ele prove em que circunstâncias, quando, onde e por qual meio Temer recebeu propina de Joesley Batista.
Outra parte importante da defesa é a alegação sobre a “falta de autenticidade da gravação” da conversa do presidente com Joesley, no Palácio do Jaburu. O advogado questiona o áudio e diz que a gravação foi editada.
A defesa alega, ainda, que a PGR teria admitido que a denúncia foi feita de modo imediatista, para impedir que supostos crimes continuassem a ser praticados. Os advogados de Temer questionam a delação premiada dos irmãos Batista, da JBS, por favorecer os acusadores.
O documento apresentado pela defesa também afirma que a denúncia é seletiva e que a PGR teria desconsiderado depoimentos benéficos ao presidente.
Saiba mais
O diálogo entre Temer e Joesley é elemento crucial na denúncia da PGR contra o presidente. Em um dos trechos, Temer pergunta sobre Lúcio Vieira Lima, deputado federal irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Os dois são identificados pelas iniciais:
J: Mas com Geddel, também com esse eu perdi o contato porque ele virou investigado. Agora eu não posso também...
T: Complicado, é complicado.
J: Eu não posso encontrar ele.
T: E por que aparecer obstrução de Justiça, viu...
J: Isso, isso, isso.
T: Perigosíssima essa situação.
Os dois entram no assunto Eduardo Cunha.:
J: Tô de bem com Eduardo.
T: Muito bem.
J: E...
T: Tem que manter isso, viu.
J: Todo mês.
T: O Eduardo também, né?
J: Também.
T: É.
J: Eu tô segurando as pontas, tô indo.
T: É.
Adiante, Joesley pergunta quem deve ser seu interlocutor.
J: Pra mim falar contigo qual é a melhor maneira? Porque eu vinha falando através do Geddel. Eu não vou te incomodar, evidente, que se não for algo assim.
T: As pessoas ficam... Sabe como é que é.
J: Eu sei disso, por isso é que...
Temer diz, após com trecho ininteligível: Um pouco.
J: É o Rodrigo?
T: É o Rodrigo.
J: Ah, então ótimo.
T: Pode passar por meio dele, viu? Da minha mais estrita confiança.
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Hébely Rebouças