Denúncia contra Temer deve dificultar votação de reformas no Congresso
Apesar do tom otimista adotado pelo presidente Michel Temer (PMDB), a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista prejudica a já fragilizada governabilidade e atrapalha a votação de matérias caras ao Planalto no Congresso Nacional, como as reformas trabalhistas e da previdência. Esta é a visão até mesmo de parlamentares aliados, que, embora apostem na rejeição da denúncia na Câmara dos Deputados, admitem agravamento da instabilidade.
[SAIBAMAIS]“Preocupar, preocupa, mas eu não falo pelo governo”, afirmou o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), um dos braços direitos de Temer no Congresso. “Agora, não será fácil juntar os votos (para acatar a denúncia). Presidente não precisa de voto, quem precisa é quem acusa”, minimizou.
A previsão é de que, na Câmara, os deputados trabalhem em função do recebimento e da análise das denúncias de corrupção contra Temer, que chegarão “fatiadas” à Câmara, por estratégia da PGR – o que dificulta o plano do governo de reerguer o debate sobre a reforma da Previdência, por exemplo.
“Vamos conviver com um período de insegurança, de angústia, porque o Brasil não consegue virar essa página. Mas o Congresso tem sua agenda, até porque temos um prazo pra votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) até a última sessão do semestre. No caso das reformas, fica difícil o ambiente pra votar a da Previdência, pelo menos”, afirmou o deputado federal Danilo Forte (PSB-CE), da base aliada. Para o líder da minoria na Casa, deputado José Guimarães (PT-CE), “bloqueia tudo, fica tudo em banho maria” na agenda da Câmara.
A reforma trabalhista, por sua vez, está em estágio avançado no Senado e já será votada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) amanhã. Para acelerar o trâmite, poderá ser levada à votação do plenário no mesmo dia, em regime de urgência – o que deverá acirrar os ânimos entre governo e oposição. O POVO apurou que o presidente Eunício Oliveira avaliará “o clima” para decidir sobre a entrada do tema na pauta do plenário.
Na tarde de ontem, o relator da reforma no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), afirmou que a chegada da denúncia na Câmara poderia respingar no Senado e “atrapalhar tudo” na CCJ, mas que os líderes da base vão trabalhar para aprovar a reforma trabalhista no plenário. “A situação do presidente se deteriora com muita velocidade”, afirmou o senador. “Mas vamos trabalhar para não atrapalhar”, destacou. (Colaborou Wagner Mendes)
Saiba mais
Hoje, a CCJ do Senado realiza duas audiências pública para discutir a reforma trabalhista. Entre outros pontos, serão debatidas possíveis inconstitucionalidades no projeto, apontadas por associações de magistrados e procuradores do trabalho.
Antes da votação na CCJ, marcada para amanhã, todos os votos que divergem do relatório serão lidos pelos seus autores. Independente da decisão final da comissão, o projeto seguirá ao plenário.
Hébely Rebouças