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"Saio pessimista", diz Gerardo Brígido após antecipar aposentadoria

2017-05-13 01:30:00
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Esperando apenas a publicação do ato no Diário da Justiça do Ceará para se aposentar oficialmente por tempo de contribuição, o desembargador Luiz Gerardo Brígido larga o vínculo com a Justiça de quase 40 anos sentindo “alívio”. Ele deixa o cargo com 66 anos idade, nove antes da aposentadoria compulsória.


O sentimento com que se despede do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-CE) não é otimista, tampouco de total desconfiança. “Não saio levando as melhores recordações, não, mas também não saio totalmente decepcionado. Saio pessimista, porque vejo que a Justiça avançou muito pouco”, sintetiza.


Surpreendendo os colegas, Brígido requereu a aposentadoria na última terça-feira, 9, e espera que até a próxima semana o ato esteja consolidado. A motivação, segundo ele, é de ordem pessoal. “Eu saí porque chegou minha hora mesmo, eu fiz a minha parte. Eu saio aliviado tanto da rotina de trabalho, que é muito cansativa, mas também porque eu vejo que a Justiça aqui no Brasil está num plano descendente”, explica.


Ele avalia que desde que ingressou na magistratura, em 1979, não viu grandes avanços nem vê possibilidade de melhora até agora. “A minha decepção com a Justiça é pela ineficiência de um poder ultrapassado que nunca passou por uma reforma séria, um poder muito vaidoso e pouco operante. A Justiça é o poder da pompa”, afirma.


Brígido destaca que suas críticas se dirigem ao Poder Judiciário, não somente à Justiça cearense. “O Judiciário está em evidência negativa, né? O Supremo (Tribunal Federal) não tem respondido o anseio da população”, diz. Sobre a Lava Jato, ele 00 avalia que é “necessária”, mas que não vai trazer mudanças ao terceiro poder. “Se joga muita esperança na Lava Jato, mas ela só deve melhorar em termos políticos, em termos judiciários não vai mudar nada. A Justiça continuará sendo a mesma burocrática, morosa, cheia de recursos, recursos que não acabam mais”, analisa.


Expresso 150

Autor das denúncias que desembocaram na Operação Expresso 150, que investiga a venda de liminares por advogados e desembargadores do Estado, ele afasta que tenha sido um ato heroico. “Eu tinha obrigação de fazer, senão eu seria omisso. Eu cumpri minha obrigação no Tribunal, de apurar o que existia de concreto em relação à venda de liminares, a partir de dados que me foram fornecidos, e contei com a ajuda do Tribunal como um todo”.

 

O desembargador também destaca a ajuda da imprensa. De acordo com ele, “se não tivesse a ajuda da mídia, não teria conseguido nada”. Ele diz esperar que “ao final, que seja feito o que deve ser feito”. Natural de Fortaleza, ele assumiu varas em Jaguaruana, Pacajus, Tianguá e Tauá antes de vir para a Capital. Tornou-se desembargador em 2002 e presidente do TJ-CE em 2011.

 

Letícia Alves

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