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Ponto de vista

2017-05-11 01:30:00

Henrique Araújo, editor-adjunto de Conjuntura


Depois do encontro Esperado, o encontro entre Lula e Sergio Moro no depoimento do petista à Operação Lava Jato tem um efeito catártico: de um lado, é combustível para o discurso político do ex-presidente, que deixou a Justiça Federal em Curitiba direto para o palanque. De lá, avisou que quer ser julgado, sim, mas pelo povo brasileiro, num aceno às eleições de 2018, cujas sondagens ele lidera. Durante a audiência com o juiz da 13ª Vara, porém, o que se viu foi um Lula esgrimindo negativas débeis a pretexto de escapar das cascas de banana que encontrava pelo caminho, como as indicações para a Petrobras que pavimentaram o banditismo na estatal e a relação no mínimo ambígua que manteve com a empreiteira OAS. Foi assim também que, talvez involuntariamente, Lula fez recair sobre a esposa Marisa Letícia, morta em fevereiro, a responsabilidade pelo interesse em comprar o triplex do Guarujá, apartamento que está no centro da diatribe jurídica e que pode levá-lo à prisão.

O segundo efeito do depoimento é uma inflexão no ritmo e no discurso da Lava Jato. Natural que, a partir de agora, a investigação se encaminhe para um desfecho, sobretudo depois do julgamento da ação penal na qual Lula é alvo - ele é réu em outras duas ações na mesma operação -, prevista para junho ou julho. Já a mudança na retórica expressa-se principalmente na maneira como Moro conduziu as etapas antes do depoimento, gravando vídeo no qual pedia aos manifestantes que não ocupassem as ruas. Ora, ele é o magistrado, não um juiz de várzea apitando uma pelada. Do modo como agiu, só ajudou a tornar o ambiente político ainda mais inflamável.

Adriano Nogueira

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