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Como o Brasil virou a pátria das propinas

2017-05-20 01:30:00
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“Era tudo propina”. A frase, soltada sem qualquer constrangimento em delação de Ricardo Saud, ex-executivo do grupo JBS, resume realidade que a maioria dos brasileiros sempre olhou com certa desconfiança. Em verdadeira “aula”, o delator descortinou esquema de propinas que teria abastecido com R$ 600 milhões campanhas de 1.829 candidatos de 28 partidos das mais variadas colorações.

[SAIBAMAIS]

Um dia após Michel Temer (PMDB) afirmar que não renunciaria ao cargo, divulgação do conteúdo da delação premiada de sócios da JBS aprofundou crise e manteve incerteza sobre a permanência do presidente no Planalto.


Apesar de todo o impacto, a JBS acaba sendo apenas mais um grupo econômico que choca o Brasil após revelar complexo esquema de propinas. No mês passado, o País também parou por conta de delações de outro grupo empresarial - a gigante da construção civil Odebrecht.


Além delas, aguardam na “fila” da Lava Jato um emaranhado de siglas e dirigentes em busca de colaborações com a Justiça - a maioria revelando pagamento de propinas por doações eleitorais.


Em diversos dos depoimentos revelados ontem, ex-diretores da JBS acusaram Michel Temer de negociar propinas desde 2010, incluindo repasse de R$ 20 milhões para o próprio presidente. Temer ainda é acusado de guardar “no bolso” R$ 1 milhão de propinas que seriam distribuídas a aliados. Ele nega acusações.


Lula e Dilma

Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, por outro lado, são acusados por um dos donos da JBS, Joesley Batista, de terem mantido contas não declaradas no exterior. Segundo o delator, saldo abastecido por propinas da empresa chegou a US$ 150 milhões em 2014.

 

As contas seriam administradas pelo ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) com conhecimento dos ex-presidentes. Segundo o delator, recursos eram usados em campanhas eleitorais no Brasil, apoiando aliados do PT.


Em nota, defesa do ex-presidente Lula afirma que acusações carecem de provas e não decorrem de contato direto com ele, mas, sim, de terceiros. Já defesa de Dilma definiu acusações como “improcedentes e inverídicas”.


Delações implicam ainda inúmeros políticos do País, incluindo mesada de R$ 20 milhões paga em sete anos ao ministro das Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), compra de cinco votos contra impeachment de Dilma Rousseff por R$ 3 milhões cada e até compra de votos em R$ 30 milhões para eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como presidente da Câmara Federal.


Bancada da propina

Segundo Ricardo Saud, 179 deputados federais de 19 siglas, 28 senadores e 16 governadores - “quatro do PMDB, quatro do PSDB, três do PT, dois do PSB, um do PP e um do PSD” -se elegeram com a “ajuda” da empresa.

 

“Tirando R$ 10 milhões ou R$ 15 milhões, é tudo propina. Tudo tem ato de ofício, tudo tem promessa, tudo tem alguma coisa”, afirma Saud.


Com 207 parlamentares, “bancada” da JBS figuraria entre as maiores do Congresso. Ela é maior, por exemplo, que a bancada evangélica, que tem 202 congressistas.


Segundo Saud, todos sabiam da condição ilegal dos repasses. “Se ele (o político) recebeu esse dinheiro, sabe, de um jeito ou de outro, (que) foi de propina. Essas pessoas estão cientes disso”. (com agências de notícias)

 

Carlos Mazza

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