O desembargador aposentado Váldsen Pereira nega todos os indícios e acusações pontuadas no relatório da investigação da Polícia Federal, em relação à suposta tentativa de ocultar patrimônio ou dificultar o trabalho feito por peritos federais, no levantamento de imóveis confiscados. E diz ter sido apenas “solícito” quanto ao seu diálogo com uma advogada amiga, num telefonema interceptado judicialmente, em que ela detalha como pagou indevidamente a policiais e oficiais de justiça para que realizassem a desocupação de um terreno invadido na Região Metropolitana de Fortaleza. Nas orientações dadas, o desembargador defende que ela tire para si, sem avisar a ninguém, uma parte do dinheiro que seria gasto na “propina” (termo usado no relatório).

[SAIBAMAIS] 

As afirmações de Váldsen foram passadas ao O POVO através de seu advogado, Flávio Jacinto. “Falei com o desembargador e ele desconhece totalmente essas informações. Esclarece que, ao contrário do que se afirma, nunca criou nenhum embaraço para os trabalhos dos peritos ou para qualquer outro agente público que esteja trabalhando nesse processo”. Disse também que “em relação à alegada ocultação de patrimônio, não há nenhum patrimônio para ocultar”. E completa a resposta: “Quanto ao suposto contato com a advogada, o desembargador afirma não ter responsabilidade pelos atos que ela pratica”.

Apesar de questionamento feito pelo O POVO, não houve resposta da defesa para um trecho do relatório dos investigadores que suscita um possível pagamento da advogada ao desembargador, descrito superficialmente num trecho da conversa entre os dois: “Não menos importante aqui é a declaração/confissão dada pelo desembargador Váldsen, em determinado momento admitindo que já teria recebido dinheiro (vantagem indevida) da advogada (NOME) quando da decisão judicial de um dos processos que teria sido patrocinado pela interlocutora”. Eis o trecho citado:

ADVOGADA - É porque a petição pode ser muito bem feita como são, e quando vai outra pessoa não consegue. Eu vou com a mesma petição e consigo, eu tenho um diferencial, não tenho não?

VÁLDSEN - Tem com certeza. Não, eu acho você espetacular nessa parte prática. Poucos fazem isso, muito poucos. Você tem uma qualidade que muito poucos têm. Eu fui quarenta, quantos anos eu fui juiz? Quase quarenta anos ou mais disso, e eu, eu percebi você desde que eu lhe vi, que eu lhe conheci naquela audiência, você tem um poder de persuasão e uma capacidade de resolver muito grande. Então, infelizmente foi, me pegou, me pegou de surpresa, porque é...

ADVOGADA - (Risos)

VÁLDSEN - Porque podia ter pego um pouquinho mais, tava com mais dinheiro lá que eu tinha certeza, que você devolveu pra empresa alguma coisa.

ADVOGADA - (Risos)

VÁLDSEN - ...(palavras incompreensíveis) É, só faz rir, não diz a coisa de certa como foi?