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A Lava Jato pegará o Judiciário, acredita a ministra Eliana Calmon

2017-04-17 01:30:00
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[FOTO1]Ex-corregedora nacional de Justiça, a ministra aposentada do Superior Tribunal de Justiça Eliana Calmon afirmou que a Operação Lava Jato vai atingir o Poder Judiciário. A declaração, que não é a primeira do tipo feita por ela, foi feita ontem, em entrevista à Folha de S. Paulo.

[SAIBAMAIS] 

“A Lava Jato pegará o Poder Judiciário num segundo momento. O Judiciário está sendo preservado, como estratégia para não enfraquecer a investigação”, disse. Calmon já havia afirmado, em 2011, que bandidos se escondiam “atrás da toga”.


Para ela, a estratégia de deixar o Judiciário “para depois” é correta, mas pondera: “Do tempo em que eu fui corregedora para cá, as coisas não melhoraram. Há aquela ideia de que não se deve punir o Poder Judiciário”. Ela admite que é “difícil” para os tribunais superiores concluírem todos os inquéritos, mas ressalta que é possível. “Precisamos mudar a legislação e tornar menos burocrática a tramitação dos processos”, disse.


Calmon também elogia o juiz responsável pela Lava Jato, Sérgio Moro. Segundo ela, a “grande contribuição” dele ao País foi dar, ao Judiciário, a convicção de que ele “precisa funcionar para punir” e precisa atuar mais rapidamente.


“Hoje, o Judiciário mudou inteiramente. Todo mundo quer acompanhar o sucesso de Sergio Moro. (...) Antigamente, o juiz que fosse austero, que quisesse punir, fazer valer a legislação era considerado um radical, um justiceiro, como se diz. Agora, não. Quem não age dessa forma está fora da moda. Está na moda juiz aplicar a lei com severidade”, afirmou. E completa: “Como juíza, sempre agi como Sérgio Moro”.


Sobre a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, afirma que ela “demonstra grande vontade de realizar esse trabalho”. “Mas vai precisar de muito jogo de cintura, da aceitação dos colegas. O colegiado é muito complicado, muito ensimesmado. Os ministros são muito poderosos. Há muita vaidade”, avalia.


A ex-corregedora também falou sobre as acusações de que a Lava Jato teria cometido “excessos”. Segundo ela, os excessos foram “pecados veniais” porque “o âmbito de atuação foi muito grande”. Além disso, ela acredita que muitos foram cometidos por “receio de que a investigação fosse abafada”.

 

Políticos

Calmon também afirmou que, embora não tenha ficado surpresa com a lista de pedidos de abertura de inquérito do ministro Edson Fachin, responsável pela Operação no Supremo Tribunal Federal (STF), se surpreendeu com dois nomes: o senador José Serra (PSDB-SP) e o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes.

 

Ela acredita que há a possibilidade de ter havido injustiças na lista, mas que elas “não são capazes de justificar manter em sigilo toda essa plêiade de pessoas que cometeram irregularidades”. “A abertura do sigilo é a melhor forma de chegarmos à verdade dos fatos”


A ex-corregedora foi citada em uma das delações da Odebrecht, acusada de ter recebido caixa 2 na sua campanha para o Senado em 2014. Ela disse que a doação não foi para ela, mas para o PSB, que repassou o dinheiro. “Está tudo na minha declaração”, defende-se. Apesar disso, nega que a acusação a descredibiliza de fazer essas análises. (Letícia Alves, com agências)

 

Saiba mais


Dinheiro vivo para ACM Neto

O prefeito de Salvador, ACM Neto, é acusado de ter recebido, em dinheiro vivo, R$ 1,8 milhão de caixa 2 da Odebrecht para financiar sua campanha à prefeitura em 2012. O ex-diretor da Odebrecht na Bahia, André Vital, declarou, em sua delação, que, no primeiro trimestre de 2012 se reuniu com o então candidato em seu escritório em Salvador, quando ACM teria pedido recursos para campanha. Na ocasião, o candidato indicou o empresário Lucas Cardoso como a pessoa responsável para administrar a entrega dos recursos. Segundo o delator, uma parcela de R$ 400 mil foi oficial, mas a maior parcela foi combinado que seria repassada via caixa 2.

Adriano Nogueira

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