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Sem clima para reformas

2017-03-16 01:30:00

Ítalo Coriolano, editor-adjunto de Conjuntura


Com o avanço da Lava Jato sobre a cúpula da administração Temer e o comando das duas casas legislativas, além da forte insatisfação popular que começa a tomar conta das ruas, fica insustentável levar à frente as radicais reformas pretendidas pelo Palácio do Planalto. Fosse um governo forte, legitimamente eleito, surfando em popularidade, já seria complicado. Agora imagine para um grupo que, dia sim, dia não, precisa se explicar por causa de graves denúncias, afastar um ministro acusado de corrupção ou recuar de alguma medida polêmica. O presidente da República, entretanto, parece ficar alheio à realidade, ou, numa linguagem mais popular, prefere “se fazer de doido para melhor passar”. No mesmo dia em que protestos tomaram conta do País, indo muito além de atos isolados vinculados a sindicatos ou partidos de esquerda, o peemedebista afirma que “a sociedade brasileira, pouco a pouco, vai entendendo que é preciso dar apoio” a medidas como as mudanças na Previdência e na legislação trabalhista. Muito pelo contrário. A sociedade, pouco a pouco, está compreendendo que a atual proposta do Executivo é injusta e retira direitos, ameaçando a aposentadoria de milhares de trabalhadores. A resistência diante da crueldade patrocinada pela atual gestão vem mesmo até de membros da base aliada de Temer, que apresentaram diversas emendas que, na prática, minam os objetivos centrais do governo. Afinal, sabem que os efeitos eleitorais dessas alterações serão devastadores. Já passou da hora de Michel Temer enxergar que não possui condições para tocar esses projetos. Não se trata de tomar ações “populistas ou populares”, como fez questão de salientar, mas de ter o mínimo de bom senso e inteligência. O presidente precisaria, neste momento, é estar preocupado em como concluir seus próximos dois anos no poder, em vez de comprar brigas desestabilizadoras. Completará um em abril aos trancos e barrancos, sem nenhuma melhoria concreta que possa ser destacada. Caso insista na ideia de um governo reformista, alimentará a revolta da população e, consequentemente, a atual crise. Reconhecendo a própria mediocridade e se aquietando, estará fazendo um grande favor ao nosso País.

Adriano Nogueira

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