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Recuo de Temer pode aumentar pressão dos governos

2017-03-23 01:30:00
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Com a intenção de aliviar o desgaste e aumentar as chances de aprovar a reforma da Previdência ao retirar servidores municipais e estaduais da proposta, o tiro do presidente Michel Temer pode acabar saindo pela culatra.

[SAIBAMAIS]

Segundo parlamentares ouvidos pelo O POVO, a medida pode agravar pressão dos governadores e dos prefeitos e dificultar ainda mais aprovação da proposta, fundamental para a implementação do teto de gastos do Governo Federal.


O deputado federal Danilo Forte (PMDB), aliado de Temer, afirmou que a exclusão das categorias de servidores é a primeira de outras mudanças que devem vir, como a flexibilização das regras que endureciam a obtenção da aposentadoria rural. O parlamentar, entretanto, defende a alteração no texto da reforma. “A mudança é um avanço no diálogo”, disse.


A proposta de Temer causou reação do Governo do Estado. Titular da Casa Civil no Ceará, Nelson Martins afirmou que a retirada de servidores da reforma “vai causar uma bagunça geral na Previdência do País”.


Martins admite que o setor estadual tem um rombo bilionário que precisa de mudanças, mas minimiza o desgaste que o Governo pode ter caso queira levar a cabo uma reforma. “Que precisa fazer reforma, precisa, mas não nessa dosagem que ele (Temer) está propondo”, critica. O secretário também avalia que o recuo não vai ajudar a aprovar a medida.


Tema que Martins evitou, a transferência da pressão dos ombros do Governo Federal aos dos governos estaduais e municipais é unânime entre os parlamentares, que se dividem, porém, sobre efeitos da medida.

O deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB) defende medida. “Fica difícil legislar sobre a situação dos estados. Cada um tem seus sistemas de Previdência. Aplicar uma norma única chega a ser uma irresponsabilidade do Congresso”, afirmou.


Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que o recuo na proposta “tira 70% da pressão do Congresso”.


Já o deputado federal José Guimarães (PT) acredita que a mudança “só aumenta a pressão e revolta os estados”, resultando em “situação de instabilidade”. “O Temer quer distribuir a desgraça alheia com os governadores, mas está redondamente enganado se acha que isso vai facilitar aprovação”, alertou.


Para a socióloga Paula Vieira, a medida não irá interferir na votação no projeto no Congresso, mas pode influenciar a opinião pública. Além disso, avalia que, com as eleições de 2018, gestores devem evitar desgaste.


Saiba mais


Aliado nacionalmente de Michel Temer, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou recuo do presidente na reforma da Previdência quanto aos servidores municipais e estaduais. "É uma boa solução para o governo federal, eu reconheço, mas empurra o problema para os estados e municípios. Vamos ter que encontrar uma solução para isso", disse. Ele diz que medida causou surpresa e que "traz preocupação".

Letícia Alves

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