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VERSÃO IMPRESSA

Um juiz discreto e garantista

2017-01-20 01:30:00

Plínio Bortolotti, jornalista do O POVO


A morte de Teori Zavascki priva o Supremo Tribunal Federal (STF) de um ministro “garantista”, como se diz na área jurídica. Grosso modo, um juiz que assegura ao réu um julgamento fundamentado na Constituição e nas leis - sem deixar a conjuntura ou chamado “clamor popular” interferir nas suas decisões. Discreto, ele era um contraponto à exuberância de alguns colegas, hábeis em emitir juízos políticos.


Relator dos processos da Lava Jato, Zavascki estava analisando as 77 propostas de delação premiada dos executivos da Odebrecht e já manifestara a decisão de homologá-las o mais rapidamente possível. O calhamaço é fonte de preocupação de importantes políticos, dos mais diversos partidos, cujos negócios poucos republicanos serão revelados.


O acidente que vitimou Zavascki fez explodir na internet os boatos de que teria havido atentado contra o ministro. Porém, se a internet é incontrolável, autoridades públicas deveriam se abster de postar em suas redes sociais opiniões que estimulam tal comportamento. O delegado da Polícia Federal, Márcio Adriano Anselmo, um dos principais investigadores da Lava Jato, escreveu post em seu Facebook pedindo investigação “a fundo” sobre a morte do ministro “na véspera da homologação da colaboração premiada da Odebrech”.


Sendo delegado, Anselmo deve ter ciência de que todos os acidentes aeroviários sempre são investigados “a fundo”. Portanto, seu post parece ter unicamente o objetivo de fomentar dúvidas. Se ele tem alguma informação que pode sustentar sua suspeita deveria tê-la encaminhado pelos canais formais - e não lançá-la na internet para contribuir com “teorias da conspiração” que vicejam na rede.

Adriano Nogueira

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