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Substituição impossível

2017-01-20 01:30:00

Érico Firmo, colunista de Política


A queda do avião em Paraty é tragédia humana e política. Além das vidas perdidas, é uma hecatombe institucional. Não há substituição satisfatória para Teori Zavascki. Quem assumir a Lava Jato estará sob suspeita. Pressionado e, portanto, fragilizado. Péssima situação para quem conduz um dos processos mais importantes da história brasileira.


Perda particularmente lamentável porque ele era dos poucos no Supremo Tribunal Federal (STF) a manter a respeitabilidade em momento em que a Corte se permitiu desmoralizar.


A Lava Jato já vinha bombardeada, por motivos justos e injustos: pelos interesses que contraria, bem como por seus próprios excessos. Nesse momento, perde um de seus alicerces mais sólidos.


Teorias conspiratórias proliferaram e era óbvio que isso ocorreria. Não pela natural tendência paranoica do ser humano. Há motivações bastante concretas. Morreu, afinal, o relator do processo que mais envolveu poderosos na história brasileira. Em maio do ano passado, o filho de Teori, Francisco Prehn Zavascki, escreveu no Facebook: “(...) se algo acontecer com alguém da minha família, vocês já sabem onde procurar”. Na época, foi divulgado diálogo entre Romero Jucá e Sergio Machado. Este último afirmou: “Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori, mas parece que não tem ninguém”. Jucá respondeu: “Não tem. É um cara fechado, foi ela (Dilma Rousseff) que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ”.


Anteontem, foi noticiado que Teori havia interrompido as férias para analisar a delação da Odebrecht. Dois dias antes, circulou a informação que retiraria o sigilo da delação. Circunstâncias, convenhamos, que justificam suspeitas.


A quem interessava que o ministro morresse? Ora, a todos os peixes graúdos enrolados na Lava Jato. Todas as autoridades com foro privilegiado que são investigadas. Isso envolve quase todo o meio político: PT, PMDB, PSDB, PP, PSB, PTC e outras siglas ganham alívio com a incerteza que passa a pairar sobre a operação.


Talvez nunca haja resposta conclusiva. De todo modo, a dúvida permanecerá para sempre. Em momento tão turbulento, tudo que não se precisava era de mais descrédito.

 

Adriano Nogueira

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