Camilo: um semipetista pragmático
Ítalo Coriolano, editor-adjunto de Conjuntura
Quando, na semana passada, o senador Tasso Jereissati (PSDB) afirmou que o governador Camilo Santana (PT) tinha um “jeitão de tucano”, ele podia mesmo até estar brincando. Mas, como diz o ditado, “toda brincadeira tem sempre um fundo de verdade”. Camilo nunca foi, de fato, um “petista puro sangue”. Basta resgatar alguns episódios da sua trajetória política para perceber quão frágil é o vínculo com a sigla.
No processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, por exemplo, foram raros os momentos em que o chefe do Palácio da Abolição saiu em defesa da aliada. Quando o fez, foi de forma bem tímida. Nas eleições do ano passado, ignorou a candidatura da correligionária Luizianne Lins à Prefeitura de Fortaleza para apoiar Roberto Cláudio (PDT). Até Nelson Martins - que também pode mudar de legenda - chegar à Casa Civil, o PT não ocupava nenhuma pasta estratégica em seu governo. O líder do Executivo na Assembleia é do PDT, no caso Evandro Leitão.
A campanha de Camilo ao Governo do Estado, em 2014, escondeu a identidade do próprio partido, preponderando o verde , amarelo e laranja já usuais das campanhas vinculadas aos Ferreira Gomes. Fatores que ajudam a explicar a baixa ingerência que possui dentro do PT, não conseguindo sequer impor sua vontade na disputa municipal do ano passado. Dois anos antes não obteve o apoio do ex-presidente Lula diante da disputa com Eunício Oliveira. Fatos sobre os quais Camilo fez questão de expôr seu descontentamento. Ou seja, a migração do Partido dos Trabalhadores era apenas uma questão de tempo. Até surpreende ter demorado tanto.
Na verdade, o atual governador do Ceará é muito mais vinculado ao projeto de seus padrinhos políticos do que qualquer outra coisa. Herdou deles todo o pragmatismo que coloca para escanteio questões ideológicas e supera possíveis constrangimentos. A ponto de ir para uma sigla que hoje integra a base do presidente Michel Temer (PMDB). De olho em 2018, afasta um pouco de si o desgaste petista e, de quebra, tenta viabilizar a segunda metade de seu mandato ao se aproximar do Palácio do Planalto. Um movimento que pode facilitar o trânsito em Brasília e garantir mais recursos para o estado. Concretiza-se, assim, um novo passo na virada que Camilo procura dar em seu governo, logo após as surpreendentes mudanças no secretariado. Resta esperar para ver se realmente darão os efeitos desejados.
Adriano Nogueira