PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

À espera de Cármen

2017-01-20 01:30:00

Henrique Araújo, editor-adjunto de Conjuntura


Sem Teori Zavascki na relatoria da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o cenário é de incertezas não apenas porque o indicado por Michel Temer, a quem cabe a nomeação, poderá herdar os processos do ministro. É incerto o futuro da operação porque, ainda que a relatoria seja redistribuída pela presidente da Corte Cármen Lúcia, dependendo de quem a assumir, os trabalhos terão andamento diferente. Para citar apenas um exemplo: se o sorteio se der somente entre os ministros que integram a 2ª turma do Supremo, entre os quais Zavascki tinha assento, os rumos da investigação irão variar conforme o nome do sorteado. Ou alguém duvida de que, sob comando de Gilmar Mendes, o já lento processo de apuração de malfeitos de políticos sofrerá um baque considerável, sobretudo por envolver o próprio presidente da República, com quem Mendes costuma pegar carona quando precisa viajar? E a cargo de Toffoli, também da 2ª turma, que ritmo terá a investigação? Suponhamos, porém, que a presidente decida por sortear a relatoria entre todos os ministros e não só entre os da turma de Zavascki. Como será caso o escolhido seja Marco Aurélio Mello, o mesmo que deferiu liminar pedindo a saída de Renan Calheiros (PMDB) da presidência do Senado e foi solenemente ignorado pelo parlamentar? Num cenário ideal, a relatoria, exercida com rigor por Teori (o ministro havia suspendido as férias para acelerar os trabalhos, o que inclui a homologação das 77 delações de executivos da Odebrecht), seria conduzida pelo decano Celso de Mello ou por Barroso, já revisor dos processos. Ocorre que, no Brasil de hoje, mesmo o Supremo tem aderido ao jeitinho, como no caso do impeachment (Dilma foi afastada, mas manteve os direitos políticos) e do próprio Renan (preside o Senado, mas sai da linha sucessória). Tanto numa hipótese quanto na outra, a escolha de Cármen Lúcia terá impacto sobre um processo que investiga dezenas de parlamentares, entre senadores, governadores, presidentes de Legislativo e ex-presidentes da República. Neste momento, a mulher que preside a Suprema Corte é a pessoa mais poderosa da República.

Adriano Nogueira

TAGS