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Prática que ganha cada vez mais adeptos no Brasil, o minimalismo prega a importância de se livrar dos excessos e viver mais e melhor, consumindo menos
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O peso dos objetos pode ser mais desgastante do que nós imaginamos. A bagagem excessiva e acumulada ao longo dos anos nos impede de visualizar contextos, ter mais tempo com pessoas amadas, realizar sonhos há muito escritos no papel. Com esses princípios em vista e vislumbrando a quantidade de resíduos que prejudicam o meio ambiente, uma onda mundial começa a atingir o Brasil: o minimalismo. Chamado de estilo ou filosofia de vida, esse movimento prega que nós devemos ter somente aqueles objetos dos quais lançamos uso. As calças que não cabem mais, os livros nunca lidos e os eletrodomésticos parados devem ser sumariamente eliminados. Depois surge a urgência de retirar objetos supérfluos e que podem ser substituídos por aluguéis, empréstimos e outros serviços de compartilhamento.

 

"Me fez aprender a sempre questionar o que é realmente importante para mim, ao invés de simplesmente ir seguindo a vida de acordo com o senso comum. Percebi que ter tempo livre pra fazer as coisas que eu gosto e conviver com as pessoas é mais importante para mim que acumular objetos, e assim consegui ir moldando a minha vida de acordo com isso. Percebi também que era mais importante ter liberdade para decidir o que quero da vida do que ter um alto padrão de vida", explica Fernanda Marinho, criadora do Blog Minimalizo e praticante desse estilo de vida desde 2012. A equação dela é simples: com menos objetos passamos menos tempo limpando; com menos objetos conseguimos visualizar melhor e a chance de perder algo é menor; com menos objetos somos mais responsáveis com  nossa existência

e não com utensílios. 

 

A designer Monike Oliveira explica que o minimalismo permite que as pessoas tenham consciência daquilo que está acontecendo no espaço onde vivem. "É um movimento artístico e cultural das pessoas que já vem há um tempo, mas as pessoas estão mais conscientes agora. Em alguns casos é modismo. Mas para a gente pensar no futuro do Planeta, vamos ter que seguir isso", diz a cearense, lembrando que muitas pessoas aderem às ideias minimalistas para gerar menos resíduos e, consequentemente, impactar menos na produção de lixo. As marcas- na opinião de Monike - estão atentas a essa demanda e buscam adequar seus produtos, ideias e planejamentos para essa nova ordem mundial. "Toda a cadeia precisa pensar isso. Não adianta o consumidor querer e não ter acesso. No caso da K temos coleções que vão do básico ao nada básico. Temos coleções mais limpas e aquelas coleções que vamos colocar um detalhe, mas não precisa ser datado", pontua Monike. A K (@usek_) é uma marca de roupas criada por ela pautada nos princípios do minimalismo e, por isso, produz unicamente vestimentas na cor preta.

 

Fernanda Marinho enumera as vantagens dos seis anos vividos na prática minimalista: passar menos tempo guardando, tirando poeira, organizando e procurando objetos quando precisa; ter objetos que realmente gosta e aproveitá-los melhor; precisar de menos espaço para viver e ter mais mobilidade; aproveitar melhor aspectos da vida como pessoas, atividades e hobbies sem estar presa a utensílios. "Sabe quando você usa uma roupa que não gosta só porque está no armário? Então, isso não acontece mais comigo. Só tenho roupas que gosto", diz Fernanda, que tem como referência Leo Babauta, do site Mnmlist.

 

"E mais do que focar no que importa e descartar objetos, compromissos, relacionamentos, no sentido de simplificar a vida, é preciso fazer um trabalho interno, também, para saber o que se quer de verdade. Não dá para viver de acordo com o que a sociedade diz que é sucesso", pontua Andreia Rodrigues, idealizadora do blog Nada de Compras. Ela entrou no caminho do minimalismo em 2013, quando estava insatisfeita com a própria vida e procurava alívio no consumo quando estava muito ansiosa ou estressada. Descobriu, então, que conhecidos estavam propondo desafios de "um ano sem compras" e resolveu zerar as aquisições de roupas e afins. "No momento em que eu faço escolhas, também levo em consideração o impacto que a minha escolha causa no mundo. Porque se tenho muitos objetos, em algum momento, vou descartá-los e onde esse descarte vai ser feito? Posso doar roupas e calçados, móveis, livros, eletrônicos, que poderão ser utilizados por outras pessoas. Mas para diminuir o descarte, é preciso consumir menos e reutilizar o que se tem", diz.

 

Blogs e sites_

 

mnmlist.com

minimalizo.com.br

nadadecompras.blogspot.com

 

Filmes para pensar sobre minimalismo 

 

Minimalismo, um documentário sobre coisas importantes: Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus levavam uma vida de acúmulos até descobrir que nós devemos possuir os objetos, e não ao contrário. O filme - disponível na Netflix - acompanha a trajetória da dupla viajando os Estados Unidos e apresentando o estilo de vida minimalista para

novas pessoas.

 

My Stuff: um finlandês coloca todos os seus objetos em um depósito e se propõe a pegar apenas um item por dia. Ele passa por situações hilárias - como a ausência de um ferro para passar uma camisa nas vésperas de um encontro importante. Mas também há momentos relevadores - como quando  percebe que precisa apenas de 100 objetos para viver e 100 para ter conforto.

 

Into the Wild: Logo após se formar na faculdade, Christopher McCandless doa 

todas as suas economias e começa a viajar pelos Estados Unidos. O objetivo é chegar ao Alasca e sobreviver na natureza.

 

No Impact Man: Pai, mãe e filha moradores de NY decidem reduzir o impacto causado no meio ambiente. O processo incluiu não utilizar eletricidade, não embarcar em carros e ônibus, não assistir TV e até extinguir o uso de papel higiênico! A família alerta para o consumo excessivo e sobre os costumes (aparentemente) sacramentados.

 

Alguns aprendizados

 

Dicas para quem quer seguir o caminho do minimalismmo ou apenas ter uma vida mais leve

 

1_Estabeleça locais na casa para guardar objetos de uso constante, como chaves e óculos.

 

2_Organize os objetos por categoria. Todos os prendedores de cabelo em  apenas um estojo, todos os documentos em uma mesma pasta, todas as toalhas de banho no mesmo armário.

 

3_ Para desapegar dos objetos, reúna todos em um mesmo lugar e avalie de um por um. Lembre que os padrões de uso podem mudar. Se no passado você teve um emprego que necessitava de roupas de alfaiataria e atualmente pode usar roupas despojadas, qual o sentido de manter todas as camisas de manga longa e botão no armário?

 

4_Não guarde as roupas que não cabem mais. Sabe aquela calça maravilhosa que não fecha? Ela pode ser vendida ou doada. Quando e se você emagrecer, merecerá comprar uma calça nova!

 

5_ Roupas que você gostam e precisam de ajustes devem ser levadas imediatamente para a costureira. Com um novo botão ou um ajuste, você pode ganhar uma peça nova no armário.

 

6_ Os DVDs, livros e CDS que não serão mais utilizados podem ser doados ou vendidos. Coloque todos os objetos em um único lugar e avalie quais ainda serão aproveitados. E sabe aquele livro que você está guardando para "ler em breve"? Avalie se realmente fará essa leitura.

 

7_ Você está adquirindo produtos de alimentação demais e eles estão estragando? Avalie as compras no mercantil de acordo com datas de validade e tempo de uso

 

8_ Antes de fazer uma compra, avalie se você já tem um objeto igual ou parecido em casa.

 

9_ Maquiagens e outros cosméticos fora do prazo de validade devem ser eliminados. Algumas empresas, como a MAC, trocam frascos vazios por produtos ou descontos.

 

10_ Leia livros de bibliotecas - que são gratuitas! - ou pegue empréstimos com amigos.  

 

11_ Não se cobre tanto. Todos temos vidas, rotinas e necessidades diferentes.

 

Menos objetos, mais espaço, menos gastos 

 

Há uma equação inversamente proporcional originária do minimalismo. Quanto menos objetos adquiridos, menos gastos realizamos e mais dinheiro permanece na conta bancária. Adeptos desse estilo de vida apontam esse como um dos benefícios mais palpáveis: os recursos que iriam embora com objetos desnecessários viram valores para realização de sonhos grandiosos - como viagens, festas de casamento e aniversário, compra de imóveis. 

 

Fernanda Marinho, autora do Blog Minimalizo e adepta do minimalismo desde 2012, explica que a redução no padrão de consumo permite, ainda, que se possam aproveitar algumas vantagens no mercado - como receber descontos por compras feitas à vista ou aplicar dinheiro em investimentos rentáveis. Ela alerta que quando se tem um objetivo concreto - "como comprar um apartamento ou fazer uma viagem" - isso ajuda no controle sobre os possíveis gastos com supérfluos. "No meu caso, por exemplo, era ter independência financeira. Era ter uma reserva financeira que me permitisse sair de um emprego ruim, por exemplo. Liberdade essa que eu já exercitei mais de uma vez". Andreia Rodrigues, autora do Blog Nada de Compras acredita que, além de estabelecer objetivos claros, é importante colocar marcas temporais para que os sonhos não sejam adiados em virtude de pequenas compras de supérfluos e outros itens não tão necessários. "Se eu quero fazer uma viagem daqui a um ano, fica mais fácil de poupar no lugar de gastar com objetos desnecessários", acrescenta. Para Fernanda, a clareza dos objetivos permite uma escolha melhor sobre gastar aquele montante ou não. "A verdade é que a gente percebe que gasta muito dinheiro com coisas que não são importantes para nós, por puro costume e falta de parar para pensar", reflete. 

 

Prioridades

 

"Esse processo começa com os objetos pessoais. Depois esses questionamentos, naturalmente, começarão a surgir quando for tomar suas decisões nas diversas áreas da vida. Logo, procure se conhecer mais e descobrir o que é importante para você e coloque seus esforços nesse sentido. Dar prioridade é a tônica", explica Andreia Rodrigues.

 

"Quando passei a ter menos objetos, minha vida se tornou mais simples. 

 

Minha casa é mais fácil de limpar e de manter organizada. Meu guarda-roupas está organizado, mantenho apenas aquelas roupas que gosto e que me caem bem. Na minha mesa do escritório só tenho os documentos do trabalho que estou fazendo atualmente. Quanto menos objetos, tenho mais tempo livre", aponta a blogueira brasiliense.

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