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O instante e o caminho
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O instante e o caminho

Ela já viveu muitas vidas em apenas uma. Passou por casamento, foi jornalista, viajou, fez trabalhos voluntários. Monja Coen Roshi, 71 anos, é respeitada por sua conduta e missão. Ela passa por Fortaleza para duas palestras na próxima semana. Ao O POVO, em uma bem-humorada entrevista por telefone, falou sobre matrimônio, suicídio, política e outros temas.
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Monja Coen Roshi 

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Monja Coen Roshi é natural de São Paulo. Foi jornalista, com passagens pelo Jornal da Tarde e pelo O Estado de S. Paulo. Nos anos 1970, foi morar nos Estados Unidos como funcionária do Banco do Brasil. Nessa época, deu inicio as práticas de zazen no Zen Center de Los Angeles. Viajou por dezenas de países realizando estudos e habilitações. Retornou ao Brasil, onde realiza palestras, vivências e outras atividades, incluindo grande atendimento a programas de televisão e jornais. Ela reside atualmente em São Paulo, no Tempo Tenzui Zenji, e é presidente do Conselho Religioso da Comunidade Zen Budista Zendo Brasil.

 

Política_

Um país dividido é um país fragilizado, acredita Monja Coen. A religiosa se preocupa com o futuro do Brasil, mas questiona os caminhos que fizeram a população chegar ao atual ponto - onde amigos e familiares brigam de forma enfática motivados por questões políticas. A polarização, as rixas e os desentendimentos, ela diz, danificam a conjuntura geral. "A quem interessa um país dividido? Quem ganha com isso? Quais grupos se interessam por um país dividido, que se odeia e fica fragilizado", questiona a religiosa.

Família_

O modelo de família formado por pai, mãe, filhos, avó e avô não é mais o único possível. Outras vozes, outras formas, outras referências e outras formas de experienciar uma família ganham eco e precisam ser respeitadas. "Não é uma coisa do Brasil. É do mundo", pontua Monja Coen, lembrando das milhares de mães solteiras que dão subsistência e provem suas casas. "Família não é apenas um casal com filhinho", acredita. "Tem pessoas, inclusive, que a gente escolhe como família. Às vezes, temos mais afinidade com pessoas que nem são da família, mas formamos vínculo de respeito".  
 

Matrimônio_

"Os casamentos se tornaram superficiais, e a vida também. Só ficamos no relacionamento enquanto é gostoso, enquanto tem algum prazer ou alguma vantagem. Quando é ruim não queremos mais. Isso vale para vida, família, casamento trabalho. Mas precisamos aprender a criar relacionamentos, formar laços, suportar fases difíceis pensando que é aprendizado. Nós podemos ser o elemento de transformação", pontua ela que teve um casamento aos 14 anos, mas acabou voltando para a casa dos pais estimulada por parentes e amigos que diziam: "se não der certo, separa". Hoje ele pensa diferente.  

 

Suicídio_

 

Não apenas a religião é capaz de prevenir o suicídio, explica Monja Coen, lembrando que o ato acontece até entre pessoas profundamente espiritualizadas. "Temos que analisar que as pessoas estão ficando tão sem saída - pois só temos notícias negativas e prejudiciais - que acabam ficando desencantadas com a própria existência", diz. A ganância, a raiva e a ignorância são três venenos que perturbam o ser humano. "Quando uma pessoa acaba com sua vida, ela está assassinando pessoas à sua volta e a vida delas acaba junto. Podemos descer até o fundo do poço - mas de lá damos impulso para sair", finaliza.

 

Equidade_

 

Apesar de ainda não terem equidade em postos de trabalho, poder de liderança e outras funções, são as mulheres que estão realizando a verdadeira revolução - aposta Monja Coen. "Eu faço parte de uma ordem progressivas e, mesmo assim, não tem equidade. As monjas possuem pouco poder dentro da estrutura da igreja", diz a missionária. Apesar disso, garante Monja Coen, o caminho trilhado pelas mulheres nos últimos anos deve desembocar em poder de fala e equidade em diversas áreas. Ela foi a primeira mulher a visitar o ex-presidente Lula, no dia 30 de julho, na sede da Polícia Federal, em Curitiba. "Até esse momento só haviam ido homens e principalmente homens cristãos. Eu fui a primeira mulher budista", lembra.

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