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Venezuela: a crise se extrema
Opinião

Venezuela: a crise se extrema

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Tipo Notícia

A crise da Venezuela chega ao ponto mais extremo, desde o fracassado golpe de Estado, em 2002, contra o então presidente Hugo Chávez. Desta vez, é o presidente da Assembleia Nacional (Congresso) Juan Guaidó, que se declarou presidente da República, num ato perante uma multidão de opositores e da Casa que preside. Ele foi reconhecido oficialmente pelos Estados Unidos e um grupo de países (inclusive o Brasil). Os riscos de uma guerra civil e de uma intervenção militar externa nunca foram tão grandes. E, se concretizados, poderão convulsionar o Continente por inteiro e sacrificar a vida de jovens de países de tradição pacífica, como o Brasil, numa guerra terceirizada.

O governo Nicolás Maduro, repudiado por grande parte da população, encontra-se isolado externamente (apesar do apoio da China, Rússia e outros países de fora da órbita americana), dentre outras razões, por ter perdido a noção de que deve haver uma correspondência entre correlação real de forças e sua expressão institucional-formal. Se os governados estão divididos de forma quase parelha (meio a meio), a simples maioria formal alegada pelo governo e contestada pela oposição - que o acusa de ter recebido apenas 48% dos votos - não garante a governabilidade. Nessas condições, se houver repressão aos opositores, gerará grandes custos políticos e humanos. O bom senso exige negociação para um acordo aceitável por ambas as partes. A pior - e repudiável - alternativa é a guerra civil, pois provocaria um banho de sangue de proporções inimagináveis.

Mais grave ainda é a intervenção externa, pois arrisca estender a convulsão para toda a região, transformando-a
em um novo Oriente Médio. O fato é que não se pode transgredir a soberania de um país - conforme o Direito Internacional - por não se concordar com seu regime político. Se esse fosse o critério, China, Rússia, Arábia Saudita e uma quantidade considerável de países que não se amoldam ao modelo institucional democrático americano teriam de sofrer intervenção externa. Ademais, as experiências históricas da intervenção de Washington para impor seu modelo foram desastrosas e geraram condições piores do que as anteriores. Basta lembrar Iraque, Líbia, Afeganistão e a Síria.

O governo Maduro não pode ser isento de suas responsabilidades pela crise, alegando a cobiça que suas reservas de petróleo (as maiores do mundo) provocam em certos países. Mas, também, ninguém pode ser ingênuo quanto a isso. O mais correto e prudente é deixar que o próprio povo venezuelano resolva seu problema interno. O máximo que os demais países devem fazer é ajudar no encontro de uma saída pacífica. Essa sempre foi a tradição da política externa brasileira. n

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