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O que fazer com as crianças
Opinião

O que fazer com as crianças

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Regina Ribeiro
Jornalista do O POVO (Foto: Iana Soares/O POVO)
Foto: Iana Soares/O POVO Regina Ribeiro Jornalista do O POVO

O presidente Jair Bolsonaro gravou um vídeo defendendo o trabalho infantil na semana passada. Deu como exemplo a si mesmo, que aos dez anos de idade "trabalhava duro" numa fazenda,dirigindo trator, pegando em arma.

Há uma esquizofrenia no tratamento dado às crianças pela nova extrema direita brasileira. Se de um lado as crianças devem ser poupadas de um livro da Ana Maria Machado,que causaria estragos sem-fim da infância; por outro, trabalhar duro não seria problema.

No entanto, basta observar o comportamento do atual presidente para que a gente perceba como essa experiência de trabalho infantil lhe fez tão mal. Repare: o fato de não demonstrar certo apreço pela cultura, pela arte, pela educação, talvez tenha alguma relação com o tipo de atividades ao qual foi submetido na sua meninice. É na infância que a gente aprende a amar o conhecimento, a brincar, a ler e a abstrair.

Quantas vezes o atual presidente sentou-se com reitores para discutir os rumos da universidade brasileira, incluindo o acesso e a pesquisa? Quantas vezes o vimos trocar ideias com Marcos Pontes, de quem não se ouve nem falar?Como tem se aproximado dos jovens cientistas brasileiros? Quantas vezes visitou um museu? Com quais escritores conversou? Quando quis saber como e por que João Gilberto se tornou uma "pessoa conhecida"? Será que teve alguma curiosidade em conhecer como e por que esse tal de João revolucionou a música brasileira, fez tanto sucesso em Nova York e por que jornais franceses deram capa a esse homem,quando ele morreu?

Por outro lado, observe o que Jair trouxe da infância: o amor pelas armas. O que parecia ser uma brincadeira "irresponsável" de criança, com a permissividade dos adultos, se transformou numa obsessão.

Armar pessoas de forma indiscriminada com armas pesadas, permitir adolescentes em escolas de tiros, armar ruralistas. Todo esse pacote parece ser mais do que um projeto, é um propósito de vida. Da vida dele e, agora, do país. Enfim, eu entendi o porquê das armas exercerem tal fascínio sobre o presidente.

Mas, eu falava de um adulto malformado. Mal formado no campo das ideias, pouco afeito ao debate, pouco instruído, pouco leitor, pouco educado. Esse adulto embrutecido já foi uma criança. E uma criança sem oportunidades. Não deve ser isso o que queremos para nossos filhos nem para este País. 

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