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Quebrando o teto de vidro
Opinião

Quebrando o teto de vidro

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Juliana Diniz
Doutora em Direito e professora da UFC participa do evento (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Juliana Diniz Doutora em Direito e professora da UFC participa do evento

Eleito no fim de maio, o novo Parlamento europeu anunciou durante a semana os nomes que estarão à frente da União Europeia nos próximos dois anos. Pela primeira vez, mulheres ocuparão postos estratégicos fundamentais: Christine Lagarde presidirá o Banco Central Europeu e Ursula von der Leyen assumirá a Comissão Europeia, braço executivo do bloco, responsável pelo desenho e promoção de políticas para a Europa. A presença de Lagarde e von der Leyen foi lida como uma mensagem: a defesa da equidade de gênero é um princípio basilar da União Europeia, que se compromete com a promoção da cultura dos direitos humanos.

Lagarde ganhou credibilidade mundial depois de assumir o Fundo Monetário Internacional em 2011. Ela substituiu Dominique Strauss-Kahn, afastado do cargo em razão de escândalos de abuso sexual. A francesa é uma potente defensora da inclusão feminina nos espaços de poder e advoga por uma tese bastante clara: graças a sua experiência social, mulheres oferecem um olhar alternativo e rico sobre avaliação do risco econômico e sobre as prioridades de investimento público. Agregá-las é não só um mandamento democrático, mas um imperativo de inteligência.

Para Lagarde, a inclusão feminina implica em maior força criativa porque mulheres fazem política de um modo diferente, "com menos testosterona". Sua tese não se fundamenta em um essencialismo ingênuo. As diferenças não se devem a diferenças biológicas, mas a questões culturais, pelo lugar social que as mulheres historicamente ocupam. Segundo a francesa, em geral, quando os homens vão para a guerra, são as mulheres que recolhem os pedaços, o que as leva a diferentes perspectivas de avaliação dos custos sociais.

A promoção da equidade de gênero nos espaços de tomada de decisão tem se mostrado a saída mais eficiente para conter os riscos de um sensível processo de virilização da política experimentado nos últimos anos. Esse processo se alimenta da defesa do nacionalismo anticomunitário, com apelo forte a uma militarização agressiva, e tem levado à corrosão das instituições por onde passa, inclusive em terras brasileiras. Ouvir vozes lúcidas como a de Lagarde nos corredores da União Europeia é uma renovação da esperança: ainda há espaço para uma visão de política baseada no diálogo e na sustentabilidade democrática como melhor caminho para a paz e o bem-estar geral. 

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