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Ética do efeito manada
Opinião

Ética do efeito manada

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Regina Ribeiro
Jornalista do O POVO (Foto: Iana Soares/O POVO)
Foto: Iana Soares/O POVO Regina Ribeiro Jornalista do O POVO

Em plena Segunda Guerra, você recebe em casa uma família judia. Soldados alemães batem à sua porta e perguntam por fugitivos perseguidos pelo Estado nazista. Você mente. Diz que não conhece o paradeiro deles. Esse exemplo foi dado por um senador durante a sessão em que o ministro da Justiça, Sergio Moro, no Senado, tentava explicar algo sobre as mensagens publicadas pelo site The Intercept Brasil. O senador em questão usou o exemplo acima como comparativo digno do princípio de que os fins justificam os meios, portanto, o então juiz Moro não teria ferido nenhuma ética em se aliar com procuradores para, literalmente, fazer a balança da Justiça pender para um dos lados.

Uma das lições que se aprende em Economia é não fazer comparações sem que haja conformidade de todos os elementos em questão para fins de análise dos fenômenos econômicos. É o caso de não comparar o preço da banana com a da laranja e afirmar que um deles subiu ou caiu. Quando ouvi a tentativa de aproximar a hipotética decisão da entrega da família judia aos nazistas e os episódios jurídicos que envolvem o ministro Moro, pensei em quão distante estão as duas situações. Talvez uma distância semelhante a uma volta inteira em torno da Terra, seja ela plana ou esférica.

Outra lição da Economia, particularmente do mercado financeiro de ações, diz respeito ao cuidado com o efeito manada, quando se está na posição de venda. O chamado efeito manada tem um quê de irracional que pode causar prejuízos imensos. Alguns estudiosos observam esse comportamento que leva pessoas a tomarem decisões sem pensar ou com base em considerações desconectadas com a realidade. Após uma tremenda queda, as ações tendem a subir. Esse é o jogo.

A ideia me ocorreu porque o que temos na política de hoje é um espécie de efeito manada, quando pessoas se desfazem de valores tão caros, por motivos que não parecem muito racionais, e embarcam num jogo ainda mais perigoso do que o econômico. O caso das armas é um deles. Agora, temos a Justiça. As manifestações em favor de Sergio Moro apoiam qualquer ato seu envolvendo A ou B ou P ou T, desde que seja contra a corrupção. Quem defende isso parece não perceber que está vendendo a preço de nada valores insubstituíveis numa democracia. Um deles é o direito a um julgamento justo e isento. E aqui o justo é o básico: não ter o juiz contra você. 

 

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