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Ataque à liberdade de imprensa

04/07/2019 02:27:34
Plínio Bortolotti
plinio@opovo.com.br
Jornalista do O POVO
Plínio Bortolotti plinio@opovo.com.br Jornalista do O POVO (Foto: O POVO)

Será um violento ataque à liberdade de imprensa se for confirmado que o ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu acesso à movimentação financeira do jornalista Glenn Greenwald, editor do Intercept Brasil. Isso configuraria retaliação para intimidá-lo, devido à divulgação dos diálogos entre Moro e procuradores de Curitiba, indicando conluio entre o ex-juiz e a acusação, no decorrer da operação Lava Jato.

Perguntado insistentemente sobre o tema no depoimento à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Moro evitou dar resposta conclusiva, o que é preocupante. É inadmissível que políticos usem o aparato estatal para atacar a imprensa, quando têm dificuldades em explicar ações que emergem à luz do dia, porém praticadas nas sombras, onde gostariam que ficassem.

O ex-presidente Lula também investiu contra um jornalista, Larry Rotter, então correspondente do New York Times no Brasil. Rotter escreveu reportagem (2004) na qual afirmava que Lula tinha o "hábito de beber", o que melindrou o então presidente. Lula ameaçou-o de expulsão, o que não se concretizou. Entretanto, somente a ameaça já foi suficientemente grave. Da mesma forma, será inaceitável qualquer retaliação a Greenwald.

Já expliquei por aqui, mas não custa relembrar: mesmo se os documentos divulgados pelo Intercept tenham sido colhidos de forma ilegal, o jornal e o jornalista não cometem nenhum crime ao divulgá-lo. Ao jornalista também não interessa as "intenções" da fonte, se boas ou más, porém se o material é de interesse público.

Por exemplo, uma das hipóteses para as denúncias de Mark Felt, o "Garganta Profunda" do caso Watergate - que derrubou o presidente Richard Nixon - é que ele tenha agido por vingança, devido a uma reles disputa interna, ao ser preterido na promoção ao cargo de primeiro diretor do FBI, agência na qual ele era diretor-assistente.

O caso é que instituições internacionais de liberdade de imprensa já começam a se manifestar contras as ameaças a Greenwald. Mais um embaraço a desmoralizar a imagem do Brasil, cujo conceito já não anda muito bem das pernas no concerto das nações democráticas. 

Plínio Bortolotti