Reconhecido e respeitado por pesquisadores, intelectuais e instituições de ensino, o legado do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997) é referência incontornável para a história da educação e do pensamento social brasileiro. Porém, duas décadas após sua morte, este autor, que foi perseguido e rechaçado pela política autoritária e antidemocrática da Ditadura Militar, volta a ser alvo de ataques com as disputas e polarizações acirradas pelo golpe que destitui a presidenta Dilma Rousseff, episódio que levou uma parte da população às ruas em 2016, para pedir o fim deste mandato, o retorno ao governo ditatorial e entre outras coisas, a retirada do título de patrono da educação de Paulo Freire, que lhe foi concedido em 2012.
Canalizando essa pauta, o então candidato à eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PSL), faz da ideia de revogação do título promessa de campanha. Mas o que diz este pensador que se opõe ao "novo" projeto de País postulado pelo atual presidente?
O pensamento freireano começou a ser gestado no fim da década de 1950, quando o País passava por transformações políticas e sociais e buscava respostas para os índices de pobreza, desigualdade e analfabetismo, que atingia mais de 50% da população. Contexto no qual o educador afirma que a solução para os problemas de aprendizagem não são apenas educacionais. Educar para ele é mais do que transmitir conteúdos - passa por construir a participação e a emancipação social e política dos indivíduos. Logo, alfabetizar e conscientizar para construção de uma sociedade democrática são objetivos que não se distinguem. Sendo assim, a maior lição do autor, para pensarmos o desejo de silenciar seu pensamento na atualidade é o alerta de que é preciso desconfiar de tendências que postulam a educação como um campo neutro, pois toda educação é ideológica e política. Assim, projetos educacionais orientados para a liberdade estão em confronto constante com ideais tecnicistas, comprometidos com a manutenção das desigualdades.
Portanto, precarizar a educação para Freire não é mero sintoma da incompetência dos governantes - ao contrário, é parte de um projeto de conservação de uma sociedade empobrecida e facilmente explorável, passível de ser destituída de seus direitos.
* O título deste texto é uma referência à música "AmarElo" de Emicida, com participação de Majur e Pablo Vittar