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O recado das mulheres no futebol
Opinião

O recado das mulheres no futebol

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Tipo Notícia

A participação da seleção brasileira na Copa do Mundo de futebol feminino comprova que há um público imenso no País disposto a consumir informações sobre a modalidade e acompanhar a rotina dos principais torneios existentes.

O desempenho do grupo, que deixa o Mundial nas oitavas de final, é exemplar disso. A posição de protagonismo das mulheres não foi importante apenas dentro do campo, no qual se mostraram técnica e coletivamente preparadas. Mas fora também, ao mobilizar audiência e torcida. É preciso agora que esse interesse se converta em recursos financeiros, apoio e estrutura para a seleção, ainda negligenciada.

Um dos maiores desafios está precisamente no investimento, seja na contratação de mais jornalistas mulheres, seja no patrocínio direto de atletas, pagando-lhes o preço justo - nem um centavo a mais ou a menos do que as empresas já gastam com os homens (a recusa de Marta a receber menos que Neymar, por exemplo, é um importante sinal).

Mas o fortalecimento do futebol feminino depende ainda de uma série de ações conjuntas entre clubes, Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e canais de transmissão. Negociar com as TVs os direitos de exibição de campeonatos de homens e mulheres no mesmo pacote, por exemplo, seria um modo de ajudar a projetar uma liga nacional feminina, etapa sem qual o País não terá meios de consolidar uma base de atletas.

Como se vê, há uma tarefa gigantesca pela frente que o bom resultado da seleção diante de times mais bem treinados na Copa do Mundo não esconde. Pelo contrário, a atuação do Brasil, ainda que se reconheçam sua força e persistência, apenas escancara que as mulheres precisam de condições para treinar e chegar ao topo da categoria.

Na entrevista que concedeu ao final da partida contra a França nesse domingo, perdida apenas na prorrogação, Marta resumiu os impasses da modalidade na qual é craque: "Não vai ter uma Marta para sempre, uma Cristiane, uma Formiga. E o futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Então pense nisso, valorize mais, chore no começo para sorrir no fim".

O Brasil é pródigo em desperdiçar riquezas, as naturais e as humanas. O recado das mulheres é claro. Não depender somente do voluntarismo ou da qualidade individual de uma ou outra atleta, mas aprender a formar jogadoras e a investir no futuro de nossos talentos. Esse é o grande desafio que o esporte nacional tem pela frente.

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