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As reformas e o não debate
Opinião

As reformas e o não debate

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Cleyton Monte, cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia) 
 (Foto: Cleyton Monte)
Foto: Cleyton Monte Cleyton Monte, cientista político, professor universitário e pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia)

O filósofo Norberto Bobbio alertava para os riscos do governo dos técnicos. Em sua obra clássica O futuro da democracia, o italiano chama atenção para o perigo de acreditar que a complexidade da vida pública deveria ser tratada exclusivamente por técnicos especializados - bem distante do cidadão leigo. Para Bobbio, esse isolamento tornaria a democracia vazia e burocratizada - presa fácil de interesses políticos, corporativos e empresariais. A discussão sobre as reformas no Brasil apresenta o mesmo dilema. Vivemos há cinco anos uma crise econômica profunda. Para combater o cenário recessivo, os governantes dos estados e da União vendem a tese de reformas draconianas como panaceia de nossos tempos. O problema é que vigora entre nós o não debate.

A população pode ter dificuldade para compreender o rombo das contas públicas, a responsabilidade fiscal e os gastos obrigatórios. Contudo, o diálogo é indispensável. Todos os impactos devem ser abordados. Não é possível cobrar sacrifícios da sociedade sem informar os sentidos, os interesses e os direitos afetados por essas medidas. Falta uma comunicação honesta. Explicar as causas do suposto desequilíbrio fiscal e ouvir os canais da sociedade. A imprensa poderia ter um papel fundamental. Quem acompanha as discussões nos principais veículos de comunicação do País, fica perplexo com a parcialidade dos programas. É incrível que somente os técnicos favoráveis às reformas sejam convidados. A universidade é outro espaço essencial da esfera pública. Os pesquisadores que investigam essas questões não devem ter medo de se manifestar. A imprensa submissa e a intelectualidade censurada criam um modelo de consenso artificial.

Os gestores alegam que estão sendo responsáveis, encaminhando suas propostas ao Legislativo - regras inegáveis da democracia liberal. É óbvio que estamos falando de temas impopulares que não afetam somente os servidores. Entretanto, esse caminho árduo deve ser trilhado com clareza, transparência e pluralidade. Não é o que ocorre até o momento. Figuras como Paulo Guedes (ministro da Economia) e Mauro Filho (secretário de Planejamento do Ceará) usam o discurso tecnicista de forma alarmante e simplória. A truculência de suas ações faz pairar uma sombra de dúvidas sobre as reais motivações que cercam as reformas! 

 

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