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Sônia Pinheiro: bem de perto
Opinião

Sônia Pinheiro: bem de perto

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Magela Lima é jornalista, doutor em Artes Cênicas e ex-secretário da Cultura de Fortaleza (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Magela Lima é jornalista, doutor em Artes Cênicas e ex-secretário da Cultura de Fortaleza

Há exatos 10 anos, eu enfrentava mais uma mudança. Então, deixava a Praça da Imprensa, s/n, para viver uma aventura na Aguanambi, 282. Na nova morada, encontrei alguns corajosos que desafiaram esse mesmo percurso bem antes de mim. Um, em especial, me deixava mais ressabiado. É que seria o meu primeiro contato com um jornalista desses de filme ou romance, capazes de mudar o curso regular dos fatos com um elogio ou senão. Afinal, como ficar alheio a Sônia Pinheiro no Ceará?

Como leitor de jornal, eu me habituei a ler Sônia Pinheiro com todas as ressalvas que as escolas de jornalismo ensinam a ler o colunismo social. Para mim, aquilo tudo não passava de futilidade. Como fazedor de jornal, porém, me vi obrigado a ler Sônia Pinheiro com a mística que envolve todo grande colunista. Logo percebi que uma nota dela era capaz de transformar o episódio mais simples num extraordinário acontecimento. Pois bem: o fato é que, de uma hora para outra, eu deixei de ler Sônia Pinheiro para ver Sônia Pinheiro bem de perto.

Foi paixão à primeira vista. Contrariando qualquer expectativa minha, Sônia se revelou uma operária da redação igualzinha a mim e aos demais. Sônia não era uma assinatura vazia, fajuta, não tinha nenhum ghost writer, não tratava informação como mercadoria. Além do mais, era uma figura divertidíssima no seu mundinho particular. Conhecia bons filmes e livros, era curiosa, generosa, absolutamente livre de preconceitos e o melhor: alucinada por notícia. Vendo hoje aquele tempo pelo retrovisor, valeu cada dead line descumprido em nome das nossas boas gargalhadas ao telefone.

Agora, no último mês, Sônia Pinheiro despediu-se das páginas, do vendaval do jornalismo diário, deixando grafado em letras garrafais seu nome na história do jornalismo cearense. Sônia Pinheiro filiou-se a um tipo de colunismo que se reinventou, aproximando o mundo do poder e o mundo das amenidades, casando informação e entretenimento, criando um vocabulário próprio e servindo de porta de entrada para muitos leitores numa época em que o jornal impresso foi perdendo prestígio. Sônia, my dear, saudades. 

 

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