A franqueza com que o ministro da Economia expôs, em maio, a situação econômica do País leva a crer que 2019 é mais um ano fracassado dentro de outra década também perdida. Esta é a leitura ante do anúncio de bloqueios de recursos e um pedido de suplementação orçamentária (mais de R$ 248 bilhões) antes de completar o semestre.
A situação é desalentadora. À insuficiência de um planejamento consistente, soma-se o imediatismo e o corporativismo presentes em amplo espectro da vida brasileira - com grupos bem organizados defendendo com vigor vantagens e privilégios sob o questionável manto do "direito adquirido".
Ainda que a provedora (a União) esteja exaurida, quase ninguém se dispõe a desmamar. Empresários querem um banco estatal para chamar de seu; potenciais investidores reclamam incentivos fiscais; servidores públicos estão focados em preservar seus interesses.
E o resultado dessa equação em que todos querem ganhar é o enfraquecimento do Estado brasileiro, com efeitos estão perpassando para outros entes federados, o setor produtivo e a sociedade. Hoje, e isso é triste, luta-se no Brasil para voltar aos patamares de desenvolvimento da década passada.
E se já era pouca a capacidade em apontar rumos em situação de crise ela se esvai completamente. Troca-se o planejamento de médio e longo prazos por soluções emergenciais - evidenciadas nos movimentos simultâneos de bloqueio de recursos e pedidos de dinheiro extra do governo federal para fechar a conta.
Apesar da retórica e das juras públicas de união pelo bem do Brasil há muitas questões a serem superadas. O País está à deriva e fazendo água rapidamente - a previsão do PIB, por exemplo, baixou de 2% para 1,5% em 2019, e o resultado do primeiro trimestre foi preocupante.
A cada semana o mercado trabalha com cenários ainda mais pessimistas. O Brasil vaga como um barco sem norte, consolidando perdas e, aparentemente, sem capacidade imediata de reverter a situação diante das fortes resistências que enfrenta. Ainda precisa vencer uma longa e sofrida travessia.