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Quem foi às ruas contra o ataque à educação
Opinião

Quem foi às ruas contra o ataque à educação

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Henrique Araújo
Jornalista do O POVO
henriquearaujo@opovo.com.br (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Henrique Araújo Jornalista do O POVO henriquearaujo@opovo.com.br

Há questões a discutir sobre os protestos do dia 15 de maio. A primeira e menos importante é se se trata de um novo "junho de 2013", evento disruptivo cuja potência até hoje não foi totalmente processada pelo mundo político, incluídos Legislativo e Executivo - e pela imprensa também.

Basta que se veja que, enquanto as ruas eram tomadas por jovens, alguns debutando em manifestações, deputados faziam jogo de cena na audiência que sabatinou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, enrolando-se em questiúnculas que não diziam respeito ao dia a dia de alunos e professores, mas à disputa político-parlamentar. O próprio ministro, por sua vez, subscreveu hostilidades disparadas por seu chefe, o presidente da República.

Bom, lá dos Estados Unidos, onde cumpria uma agenda digna dos filmes "Loucademia de Polícia", Jair Bolsonaro (PSL) disse o tipo da coisa que não se repete pelo bem do exemplo. Como não queremos que nossos estudantes de hoje sejam os idiotas úteis que seguem os gurus escatológicos de amanhã, é melhor preservá-los das palavras do mandatário da nação.

É suficiente que se diga que, do ponto de vista estratégico, o presidente cometeu um erro grave e primário: estimulou a animosidade e chamou para o ringue um segmento numeroso, inflamável, hiperconectado e com tempo livre - os jovens. Nisso, e apenas nisso, maio de 2019 se parece com junho de 2013, já que também naquele ano o poder instituído olhou para as cidades coalhadas de gente e deu de ombros, acreditando que poderia voltar para casa e continuar com a vida, reelegendo-se no pleito seguinte e no posterior. Engano.

Se ignorar o potencial de estrago dos protestos dessa quarta, que se soma à "bomba-relógio" ambulante chamada Flávio Bolsonaro, o presidente terá problemas sérios logo à frente. Por três razões: a massa de pessoas que foi às ruas extrapola o raio de influência de partidos e entidades tradicionalmente de esquerda.

De modo que não era um protesto "Lula livre" replicado em mais de uma centena de cidades, como quer fazer acreditar o pesselista. Tampouco um ajuntamento de desorientados tutelados por "espertalhões". Era gente impactada direta e indiretamente pelo congelamento de gastos das universidades e institutos federais - alunos, professores, pais e mães de estudantes.

A segunda razão: Bolsonaro supõe que, caso se veja em apuros, terá apoio de um movimento igualmente expressivo que ocupe as avenidas e lhe dê sustentação, reeditando a onda que o levou até o Planalto, vitorioso nas eleições de 2018. Eu duvido disso. Cito dois motivos apenas: ano passado não havia Queiroz e os "laranjas" do PSL. Agora há.

E, finalmente, a terceira razão: o presidente esqueceu-se de que não tem base no Congresso. No mesmo dia em que bravateava sobre as paralisações no Brasil, por exemplo, o titular do MEC era sabatinado por deputados, que haviam aprovado a convocatória por 307 votos - apenas um abaixo do quórum qualificado, esse que o presidente almeja para a reforma da Previdência.

Há risco de impeachment?, alguém pode se perguntar a esta altura. Pela gravidade do instrumento e o trauma que se seguiria depois de tudo que o País já viveu, é melhor sequer mencionar a palavra ou aventar a hipótese.

O cenário, entretanto, não inspira tranquilidade. Seja porque o horizonte é anuviado e o efeito Queiroz, ainda não precificado. Seja porque o presidente se mostra cada vez mais incapaz de estabelecer canais de diálogo com a sociedade. Pelo contrário. Em quatro meses de mandado, tem se esforçado para dinamitar pontes. O risco é o de governar sobre escombros. 

 

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