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O movimento urbano
Opinião

O movimento urbano

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Laura Rios
Arquiteta cocriadora da Estar Urbano 
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Laura Rios Arquiteta cocriadora da Estar Urbano

O que há de mais encantador em trabalhar no meio urbano, é o observar as sobreposições de vivências e sentidos que um único lugar pode ter. Não há absolutamente nenhum espaço/lugar que tenha homogeneidade nas percepções do observador. Logo, nenhum espaço também é vivido igual.

Isso diz muito sobre o qual cada um de nós pode projetar nossos próprios valores e objetivos num espaço físico, e como isso é valioso para entender e então, intervir nesse lugar. E é justo a vagueza dessa projeção individual nos espaços que gera a sensação de não pertencimento aos espaços públicos, criando território de ninguém, desertos urbanos (ou humanos?).

E mesmo com tantas evidências sobre a importância de se projetar nossos valores nos espaços, ainda vejo cidadãos munidos de uma apatia teimosa, com uma descrença ou ignorância sobre seu papel de cocriador da cidade.

É claro que há uma assimetria entre aqueles que usufruem o direito a cidade. Além também da dura cultura do colonizado, em aceitar que somos um território neutro a ser contemplado por tendências estrangeiras. Mas o que tenho observado e tentado expressar, é que o poder de interferência individual, atuando como coletivo é imensurável e muito mais acessível do que a gente pensa. Atuamos diariamente de forma livre no espaço público, e interferimos de forma direta e instantânea em todas as instâncias. Desde a escolha de locomoção, caminhos, locais de moradia e até na forma de se relacionar com a vizinhança. Estabelecemos regras e damos formas à cidade a partir do nosso movimento individual.

É a consciência desse movimento que nos leva ao engajamento cívico. Entender essa dinâmica nossa e do outro, também nos faz ver a beleza dessa sobreposição de sentidos, da equalização de interesses, do convite da liberdade de atuação que existe na cidade. Territórios urbanos são campos de experimentos que se modificam com a nossa intenção, simples assim. E nós, urbanistas, uma das ferramentas dessa intenção. 

 

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