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Prepare-se para a fase mortal do jogo
Opinião

Prepare-se para a fase mortal do jogo

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Regina Ribeiro
Jornalista do O POVO (Foto: Iana Soares/O POVO)
Foto: Iana Soares/O POVO Regina Ribeiro Jornalista do O POVO

Qual o projeto que o governo Jair Bolsonaro tem para educação no Brasil? Após a rápida e tumultuada passagem de Rodrigo Vélez pelo Ministério da Educação, o novo ministro Abraham Weintraub tomou posse surpreendendo a cada dia com medidas e ideias que deixam perplexa qualquer pessoa de bom senso. De início, encontrou no presidente um forte aliado para tecer críticas às humanidades - filosofia e sociologia especialmente - que, segundo o ministro não têm utilidade prática para os jovens no mercado de trabalho. Para um ministro da Educação tal compreensão do campo do conhecimento sobre o papel que o saber científico nessas áreas exerce no conjunto de uma sociedade é aterradora. Por si só esse tipo de abordagem preocupa, no entanto, nada se compara ao modo como o ministro anunciou na semana passada o corte de recursos orçamentários nas universidades, além de programas que envolvem o ensino médio e a educação básica.

Na última quarta-feira, o jornal Valor Econômico divulgou dados da Secretaria do Orçamento Federal que mostram o alcance da tesoura do governo. No Ceará, a UFC sofreu um corte de 31,88%; a Unilab, 32,26%; na Universidade Federal do Cariri, o golpe foi profundo: 46,91%. Restrição orçamentária não é algo incomum seja na administração pública ou privada. No entanto, o modus operandi do governo Bolsonaro com a educação deixa transparente o perigo que estamos correndo diante da sombria e solene ausência de uma política para o setor aliada a um verdadeiro prenúncio de desmantelamento de áreas de estudo que podem deixar de existir porque, simplesmente, desagradam o presidente e seu ministro, talvez porque tais conhecimentos expõem a vetusta ignorância que povoa esse governo.

Enquanto as universidades são pegas de surpresas com cortes no orçamento e bolsas de estudos em curso de pós-graduações, mais um forte solavanco. Esta semana o governo pariu o decreto que permite que políticos, advogados, caminhoneiros, jornalistas, ruralistas, entre outros, possam andar armados. E mais: abre a possibilidade para que crianças e adolescentes frequentem escolas de tiros com permissão de pelo menos um dos pais ou responsável. Embora o decreto esteja sendo questionado por especialistas e o Congresso Nacional possa interromper seu percurso, só o fato dele existir e ser obra do Executivo estimula, entre outros mil questionamentos legais, algumas perguntas: 1) Quem o presidente Jair Bolsonaro deseja armar? 2) Quais efeitos reais e efetivos o governo de Jair Bolsonaro pretende com uma medida que pode elevar a violência em níveis inimagináveis? 3) Quais os estudos que o chefe do Executivo, Jair Bolsonaro, pode apresentar à Nação como benefício ao incrementar em cerca de 2.000% a quantidade de munição para armamentos? 4) Como explicar às crianças que elas poderão portar armas em escolas que as tornarão, em pouco tempo, atiradoras, antes mesmo de tirar uma carteira de motorista ou um título eleitoral?

Caso não haja uma mobilização nacional para barrar esse decreto, o País entrará de vez na fase 5 desse jogo mortal e perigoso no qual se arma a população e lhes dá o poder de decidir quando e como poderá se sentir segura. 

 

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