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Urbanismo aterrador
Opinião

Urbanismo aterrador

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Gabriel Lima de Aguiar
Biólogo
 (Foto: Gabriel Lima de Aguiar)
Foto: Gabriel Lima de Aguiar Gabriel Lima de Aguiar Biólogo

Na véspera do aniversário de 293 anos de Fortaleza, o prefeito Roberto Cláudio assinou a ordem de serviço para aterrar uma faixa 1200 metros de praia da Beira Mar, adentrando 80 metros no oceano. A justificativa da prefeitura para a obra de quase R$ 70 milhões é a preservação da faixa de praia e a instalação de equipamentos como quiosques, pistas de corrida e brinquedos na área que hoje é ocupada pelo mar. Ao ser divulgada na página do O POVO do Instagram, a notícia gerou centenas de comentários negativos e receosos a respeito dos impactos ambientais da proposta. E não é para menos.

A área que receberá a intervenção é habitat de pelo menos quatro espécies de tartarugas ameaçadas de extinção que desovam nas praias de Fortaleza, além do boto-cinza (também ameaçado e legalmente considerado patrimônio natural de Fortaleza) e uma riqueza local de recifes de arenito e de peixes nativos. A área está a cerca de 13 km do Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio e é uma área onde está sendo discutida a criação de uma nova unidade de conservação, o Refúgio da Vida Silvestre das Tartarugas. Para além da biodiversidade, geógrafos e a população atenta também se preocupam com os efeitos sistêmicos da intervenção na erosão marinha da costa de Fortaleza e da Região Metropolitana. Ao ser questionada sobre essas perspectivas, a Prefeitura de Fortaleza afirmou que a obra ''não trará consequências ambientais negativas graves''.

Ao que tudo indica, estamos acompanhando aqui mais um projeto urbanístico que tenta fazer frente à natureza sem respeitar suas dinâmicas, esquecendo que a cidade está inserida em um contexto muito maior e mais complexo e transformando o potencial de serviços ecossistêmicos em futuro custo para o Estado. Após os jornais noticiarem que as dunas da Sabiaguaba estão invadindo a rodovia CE-010 e que as águas dos rios encaixotados estão alagando as ruas e as casas, devemos acompanhar em breve as denúncias espantadas de que o mar está avançando sobre as nossas praias. É... parece mesmo que o meio ambiente não respeita a gestão ambiental de Fortaleza. 

 

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