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Como salvar a democracia
Opinião

Como salvar a democracia

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Regina Ribeiro
Jornalista do O POVO (Foto: Iana Soares/O POVO)
Foto: Iana Soares/O POVO Regina Ribeiro Jornalista do O POVO

Desde meados de 2015, uma boa quantidade de livros que debatem as ameaças à democracia invadem as prateleiras das livrarias físicas e online. Embora essa forma de governo e vida das sociedades modernas e contemporâneas nunca tenha sido propriamente pacífica, desde o chamado pós-Segunda Guerra Mundial a democracia reúne um conjunto de elementos que sempre nos pareceram garantir liberdades e garantias individuais e sociais como em nenhum outro sistema. A esses valores une-se também a possibilidade de crescimento econômico que, de alguma forma, mede a força e a estabilidade de determinado estágio democrático de um país.

No início dos anos 2000, o filósofo Jacques Rancière já chamava a atenção para um esgarçamento do que chamamos democracia. São dele dois pequenos ensaios que abordam o tema. No primeiro, "Ainda se pode falar em democracia?", Rancière reflete sobre o distanciamento entre o que nós acreditamos ser democracia e no quê, efetivamente, os governos que adotam sistemas de representação política e eleitorais estão se tornando. O outro texto, ainda mais contundente, é "O ódio à democracia", no qual o filósofo francês detalha alguns pontos da encruzilhada a que chegou o regime. Segundo ele, a novidade da crise é justamente o "ódio". No atual processo histórico, a amplitude dos debates sobre direitos e igualdades trouxe à tona um descontentamento profundo que atinge em cheio as novas vozes que disputam atenção à mesa da democracia. Movimentos de raça, gênero e identitários estão entre os que mais despertam esse ódio.

As rápidas mudanças que têm acontecido em vários países da Europa, mas principalmente a eleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos parece ter deixado o mundo em alerta. "Como as democracias morrem" (Steven Levitsky e Daniel Ziblatt), "Como a democracia chega ao fim" (David Runciman), "Democracia em risco?" (Sérgio Abranches, Angela Alonso e outros) são apenas alguns dos títulos que analisam a possiblidade real da perda de liberdades e direitos que tradicionalmente embasam os valores democráticos.

O último desses livros é o recém-lançado "O povo contra a democracia: Por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la", de Yascha Mounk. No prefácio da edição brasileira, o autor dedica boa parte do texto ao acontecimentos políticos recentes que culminaram com a eleição do presidente Jair Bolsonaro. O livro, embora reflita sobre os problemas graves que se abatem sobre o sistema, encara algumas possibilidades de atuação individual e coletiva que podem ajudar a salvar a democracia: 1) Não subestimar um populista, ficar realmente atento aos seus movimentos. Eles são poderosos e estão sendo empoderados por boa parte da população. 2) As oposições devem se unir contra o populismo de forma eficiente, deixando de lado as divergências que costumam fragilizá-las e impossibilitar o trabalho de combate às ideias e práticas antidemocráticas. 3) Trocar o discurso de crítica ao populista por um projeto de país melhor onde se viva e pense de forma mais arejada.

O melhor de tudo no discurso de Mounk é que todos nós - ou seja, individualmente, cada um - somos responsáveis pelo combate diário a toda e qualquer forma de ameaça aos valores democráticos. 

 

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