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COM QUE ROUPA EU VOU...
Foto de Demitri Túlio
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

COM QUE ROUPA EU VOU...

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Enquanto decido se vou para Olinda, para Salvador, São Paulo, Rio ou para o Serpentina, na Heráclito Graça, a sexta e o sábado de folia já se foram. Logo eu, um arlequim meio Noel, meio Felipe Araújo. Doido por uma alegoria para atravessar esses dias e, depois, me purificar no Subaé.

Como no Carnaval vale fantasiar, vou sair de "Esse País, agora vai". Sim, com a derrocada da Era PT, não tem mais graça sair de "Rei posto" ou de me vestir de "Chutar cachorro morto".

Fiquei pensando em ir de "Retórica" em homenagem ao atual presidente. Algo eloquente, firme de argumentação, comunicação clara e personagem que entende do riscado. Não, não, assim também era querer fantasiar demais.

Mas a "Retórica", eu poderia me vestir às avessas. Pelo lado pejorativo. É Carnaval, afinal. "Uso de mecanismos contundentes e ostentosos para ludibriar ou vangloriar-se; discurso enfadonho e vazio". Também não. Como é que eu iria me vestir disso?

Poderia até ter jeito. Dona Nira da Praia de Iracema, a costureira-fada da Gata Borralheira e da saudosa Escola de Samba Ispaia Brasa, teria um magia entre um cigarro e as pedaladas na incansável Singer.

Ela, talvez, me propusesse um pano bem longo, largo, cor de laranja, bem amarelo queimado. Que me coubesse e mais uns dez amigos e amigas pra sair de laranjal. A "Retórica dos Laranjal". Taí...

Mas, não... Dona Nira tinha me oferecido outra que havia desenhado pensando em mim e na minha prosperidade financeira. Já estava até alinhavado, fui ver. "Ei Queiróz, tu e Eduardo, traz dinheiro pra nós". Ficou massa, mas ainda não era do meu agrado.

Criativa, mexeu no mundo de cabides que tem em sua sala e trouxe uma que eu achei do papoco. Chamava-se "Honestidade e competência. Não é porque sou filho do Mourão". Um quepe de general, um cheque gigante de R$ 35 mil e óculos com os dois "b" do Banco Brasil.

Era bacana, mas como sou indeciso, corri os olhos em outra. Uma meio controversa, meio envergonhada. "Caixa 2 não necessariamente significa corrupção". Mas tinha alguma coisa de fluída, parecia aquela foto do Jânio Quadros de pé trocado...

Não quis. Vizinha a ela, também havia a "Super ministro não aguenta um twitter, manda Ilona sambar na ponte que caiu". Meio insegura demais, ficou frouxa pra mim. Um vento forte e desfazia tudo.

Dona Nira já estava cansada de minhas indecisões, notei. Ofereceu-me ainda "Lorenzoni arrependido" , "Quando eu morrer, me aposento", "Agora, é bala!", "Pede pra cantar e sai, Vélez!" ...

Indeciso, num domingo de Carnaval, ainda perguntei se dava tempo dela costurar uma bem facilzinha. "Bebianno, o babão". Ela me mostrou umas já costuradas. "Capitão, não me deixes, capitão", "Capitão, por favor, capitão", "Capitão, ô capitão, deixa eu fazer capitão"...

Ri meio amarelo e disse que não. Pensei melhor, era meio baixo astral as fantasias deste ano. Acho que vou de palhaço em homenagem a alguns amigos!!!

Foto do Demitri Túlio

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