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Goretti Quintela: uma escola
Opinião

Goretti Quintela: uma escola

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Magela Lima
Jornalista e professor universitário 
lima.magela@gmail.com (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Magela Lima Jornalista e professor universitário lima.magela@gmail.com

A julgar pelo tanto que fez em 60 anos, ela ainda faria muito, tivesse o tempo lhe sido mais generoso. Foi cedo demais, nossa querida Goretti Quintela. Nome decisivo na história das artes cênicas no Ceará, ela foi mais que uma bailarina, mais que uma coreógrafa, mais que uma professora de dança. Ela foi uma escola. Ao longo de sua trajetória como artista, uma incansável artista, Goretti Quintela, que nos deixou no último dia 22 de fevereiro, firmou-se como referência e ajudou a formar sucessivas gerações.

Gerações importantes de artistas, que, ao longo dos anos, povoaram nossos palcos e nossos sonhos, mas, sobretudo, gerações importantes de espectadores. Graças ao trabalho continuado e exemplar de Goretti Quintela, o Ceará habituou-se a dançar e habituou-se também a gostar de dança, a acompanhar espetáculos, a reconhecer e aplaudir talentos. A atuação de Goretti Quintela foi decisiva para popularizar o balé clássico e a dança cênica de um modo geral entre nós. Sem ela, nossa dança seria outra. Não só do ponto de vista simbólico.

A persistência de Goretti Quintela fez dela um porto seguro para a dança no Ceará. Enquanto as academias de balé cediam lugar para aulas de ginástica e musculação, ela manteve firme seu compromisso formativo no campo das artes. Enquanto Fortaleza assistia a um processo agressivo de deterioração e perda do prestígio cultural de sua região central, ela manteve sua escola funcionando na rua São Paulo, coração do Jacarecanga. Goretti Quintela acreditou que a dança, a nossa dança, a dança dela, era possível. Esse, talvez, seja seu maior legado.

Tradicionalmente, o Ceará tem dançado entre idas e vindas. Muitos dos nossos talentos, nesse vai-e-vem, acabaram por construir carreiras lá fora, o que não chega a ser propriamente um problema. De todo modo, deixar o Ceará não pode ser um condicionante para o cearense que queira fazer da dança sua missão e sua vida. Goretti Quintela começou aqui e aqui ficou. E como foi importante ter ficado! Daqui, projetou-se nacionalmente, considerando seu segmento de atuação. Dançou uma vida inteira e fez com que tantos outros também dançassem. n

 

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