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A diplomacia brasileira e a crise na Venezuela
Opinião

A diplomacia brasileira e a crise na Venezuela

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Dois dias depois do fracasso no envio de ajuda humanitária à população venezuelana, o Brasil participa de nova tentativa de resolução do conflito entre as tropas fiéis ao ditador Nicolás Maduro e o opositor Juan Guaidó, reconhecido por 50 países como mandatário interino da Venezuela.

Vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão representa o Planalto no Grupo de Lima, do qual fazem parte chanceleres de outros 13 países. O encontra está agendado para hoje, em Bogotá, na Colômbia.

Por enquanto, o Brasil se limita estritamente a ações de menor impacto na fronteira com a Venezuela. Nas últimas 48 horas, porém, o cenário se degenerou, o risco de confronto armado cresceu.

Por sua liderança na América do Sul, o país não pode lavar as mãos. Sua participação na busca por uma saída negociada não deve estar, todavia, integralmente alinhada aos interesses dos Estados Unidos no continente, historicamente tratado como "quintal" pela potência do norte. A posição do Planalto precisa levar em conta principalmente os interesses do Brasil na região - os políticos, mas também os econômicos.

A missão do Planalto é atuar para reduzir a tensão entre os vizinhos, o que inclui a Colômbia. Esse é o melhor caminho para fazer valer sua influência, seja para forçar a comunidade internacional ao reconhecimento de Guaidó como líder provisório e a uma pressão maior sobre Maduro, seja para conduzir as nações americanas a uma concertação em cujo centro estão o povo venezuelano e a sua soberania para resolver esse impasse.

Sob qualquer ângulo, uma eventual escalada no conflito na Venezuela seria desastrosa para o Brasil, que teria de arbitrar uma disputa militar custosa sem qualquer perspectiva de desfecho num curto prazo.

Ressalte-se ainda que, por ora, os movimentos do governo brasileiro parecem se guiar pela sensatez, à exceção de uma ou outra declaração irrefletida do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cujos pronunciamentos se aproximam daquilo que ele costuma criticar em gestões passadas do Itamaraty: o excesso de ideologização.

Não há dúvida de que Maduro entrincheirou-se em seu país como estratégia para resistir às investidas internacionais. Cabe ao Brasil seguir o melhor exemplo de sua diplomacia, colaborando para um entendimento gradual entre todas as partes implicadas nessa crise, evitando a todo custo uma intervenção das forças de segurança. n

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