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Um "túnel" longo demais
Opinião

Um "túnel" longo demais

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Josesito Padilha
Economista, advogado e presidente do Instituto Liberal do Nordeste - Ilin (Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Josesito Padilha Economista, advogado e presidente do Instituto Liberal do Nordeste - Ilin

Na mentalidade dos economistas, a análise e o cálculo são instrumentos fundamentais em seus prognósticos. Em razão desse viés racionalista, é comum que eles assumam a altivez de "engenheiros sociais" capazes de conduzir o país inteiro ao bem-estar e à prosperidade. Muitas vezes eles se esquecem que a vida não é um plano cartesiano ou um jogo de Lego. Nesse ponto, a política tem sido cruel com vários economistas brilhantes, que fracassaram rotundamente em seus sonhos de reforma.

No primeiro mês do governo Bolsonaro, destaca-se a figura do antes quase desconhecido Paulo Guedes, o novo "czar" da Economia. Liberal por convicção, o superministro tem uma agenda bastante atarefada, repleta de planos de reforma, tendo a previdenciária como sobressalente. O desafio econômico é, na verdade, também o mais dramático dos próximos anos. Há tempos que a economia brasileira se encontra em crise letárgica, com desemprego acentuado e sem perspectiva consistente de recuperação rápida ou sustentável dos indicadores econômicos.

Entretanto, alguns sinais do mercado são extremamente positivos, pois indicam um aumento da "confiança" ou melhoria das expectativas, como o aumento no índice da Bolsa de Valores ou a estabilização ou recuo do valor do dólar. Mas ainda é cedo para comemorar. A reforma do Estado e as futuras privatizações ainda não saíram da prancheta. A indústria está em frangalhos, não só por causa da crise econômica dos últimos anos, mas por seu despreparo tecnológico e produtivo para enfrentar os desafios de uma economia competitiva e globalizada. A reforma previdenciária está no topo das prioridades, mas possivelmente terá adversários até dentro do próprio partido do presidente. A grande fragmentação partidária do atual Congresso é uma arena movediça demais para mentalidades tecnocráticas ou militares, acostumadas a dar ordens, mas sem traquejo para o "jogo" político. Enfim, haverá luz no fim do túnel? E quando?

Lembrei-me agora de um filme "clássico" sobre a Segunda Guerra Mundial, "Uma ponte longe demais", baseado nos fatos da operação "Market Garden", cujo fracasso retardou em meses o final do conflito na Europa. Receio que a travessia desse túnel recheado de obstáculos ainda pareça longo demais. Ou que algo possa dar muito errado. Só o tempo dirá. n

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