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As novas "pragas egípcias"
Opinião

As novas "pragas egípcias"

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Tipo Notícia Por
Weiber Xavier 
Médico e professor de Medicina na UniChristus (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Weiber Xavier Médico e professor de Medicina na UniChristus

O faraó Ramsés II não consentiu que os hebreus partissem de suas terras, levando assim a uma série de pragas: a transformação da água do rio Nilo em sangue, invasões de rãs, piolhos, moscas, morte do gado, feridas, chuva de pedras, nuvens de gafanhotos, trevas e a morte dos primogênitos.

Na busca da eterna juventude e do paraíso prometido do antienvelhecimento, hoje muitos recorrem a toda sorte de receitas. O glúten, cujo pão é alimento básico para mais de 1/3 da população mundial hoje se tornou um vilão. Pesquisas demonstram que 1/3 dos americanos evitam o glúten, embora a doença celíaca somente afete menos de 1% da população e não exista pesquisa científica conclusiva que o glúten prejudique o desenvolvimento ou funcionamento de indivíduos saudáveis. Observa-se, ainda, uma verdadeira "pandemia de deficiência de vit D". No entanto, isso baseia-se na interpretação e aplicação incorretas dos valores de referência para a vitamina D. Como esses entendimentos errôneos podem ter implicações adversas para o paciente, incluindo o desnecessário rastreamento e suplementação de vitamina D, além dos custos, é importante esclarecer que em indivíduos sadios e sem fatores de risco significativos, a avaliação de rotina e suplementação de vitamina D não é recomendada. O que dizer então do uso de hormônios sem deficiência comprovada por pseudoespecialistas em "modulação hormonal", especialidade não reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, da proibição irrestrita da ingestão de lactose, de múltiplos exames laboratoriais em pessoas sadias, inclusive zinco e selênio... Certamente teremos mais de 10 "pragas egípcias" modernas, numa população ávida por novidades e por falsas promessas, com acesso promíscuo ao "Dr. Google" a vida segue breve e a medicina como arte, longa e difícil, como diria Hipócrates: " há verdadeiramente duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência consiste em saber; em crer que se sabe reside a ignorância".

Ao fim de tantas calamidades, Ramsés II, finalmente, concordou com o êxodo dos judeus do Egito. n

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